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      China intensifica investimentos nas Novas Rotas da Seda com foco na Ásia Central

      País destina bilhões de dólares para projetos de mineração e metais na região, visando garantir acesso a recursos naturais essenciais

      Bandeira da China. Foto: Reuters
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - A China tem ampliado significativamente os investimentos no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota (também conhecida como Novas Rotas da Seda), especialmente na Ásia Central, com foco em projetos de mineração e extração de metais. Embora as expressões "Cinturão e Rota" e "Novas Rotas da Seda" se refiram ao mesmo projeto de infraestrutura global, o termo "Novas Rotas da Seda" é mais comumente utilizado para destacar a revitalização das antigas rotas comerciais que ligavam a China ao resto da Ásia, Europa e além.

      De acordo com o China-Global South Project, uma organização de pesquisa com sede nos Estados Unidos, os 150 países envolvidos nesta iniciativa receberam, entre janeiro e junho de 2025, US$ 124 bilhões em investimentos e contratos de construção. Esse montante superou os US$ 122 bilhões registrados ao longo de todo o ano de 2024. A análise do Griffith Asia Institute, da Austrália, apontou uma “concentração incomumente alta” de financiamentos direcionados à Ásia Central, região que se destaca como um destino estratégico para os investidores chineses, especialmente em projetos de mineração, como os de alumínio e cobre. Ao mesmo tempo, o fluxo de investimentos diminuiu em outras regiões como Europa, Leste Asiático e Oriente Médio.

      O Cazaquistão, um dos principais países da Ásia Central, foi o maior receptor desses recursos, com US$ 23 bilhões investidos nos primeiros seis meses de 2025. O maior projeto no país foi um complexo de alumínio de US$ 12 bilhões, liderado pelo conglomerado chinês East Hope Group. Esse movimento reflete não apenas pressões econômicas internas da China, mas também mudanças nas dinâmicas do comércio global, onde a segurança do acesso a recursos naturais tem ganhado relevância estratégica.

      A Iniciativa Cinturão e Rota, ou Novas Rotas da Seda, foi lançada há 12 anos com o objetivo de criar uma vasta rede de infraestrutura, como aeroportos, portos, rodovias e usinas de energia, por meio de empresas chinesas, em países parceiros. Esses projetos são desenhados para beneficiar as economias locais ao permanecerem no país anfitrião para uso interno, criando um círculo de dependência e fortalecimento dos laços econômicos e políticos com a China.

      Para Andy Xie, economista independente em Xangai, a mudança do foco para projetos relacionados a minerais e metais é estratégica, pois a infraestrutura de transporte já foi amplamente construída na região sob a Iniciativa Cinturão e Rota. "Os minerais podem ser transportados para a China por ferrovia", explicou Xie, destacando que a Ásia Central, com sua abundância de recursos naturais, se tornou um eixo de interesse crescente para Pequim.

      As tensões comerciais com os Estados Unidos também são um fator relevante. Especialistas acreditam que a China, preocupada com a possível tentativa dos EUA de controlar minerais preciosos da região, esteja buscando uma "vantagem de pioneiro" para garantir o acesso a esses recursos. Jayant Menon, pesquisador do ISEAS-Yusof Ishak Institute, afirmou que "a China pode estar mais interessada em se proteger contra uma deterioração das relações comerciais com os EUA", o que torna a Ásia Central ainda mais estratégica para o país.

      O Cazaquistão, por exemplo, possui vastas reservas de 15 elementos de terras raras e outros metais essenciais para a produção de tecnologias avançadas, como computadores e carros, o que aumenta ainda mais sua importância para a China. O presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, participará de uma cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, que ocorrerá no domingo em Tianjin, na China, juntamente com os líderes de outros países da Ásia Central.

      A diplomacia americana também está atenta a essa região, com o Departamento de Estado dos EUA afirmando, por meio da porta-voz Tammy Bruce, que os Estados Unidos estão ansiosos para colaborar com o Uzbequistão em "oportunidades mutuamente benéficas para investimentos em minerais críticos". No entanto, especialistas como Christoph Nedopil Wang, do Green Finance & Development Centre de Xangai, apontam que grandes projetos de infraestrutura como os da Iniciativa Cinturão e Rota exigem tempo para serem implementados, o que pode significar que a guerra comercial com os Estados Unidos tenha "acelerado" as ações da China na Ásia Central, mas não tenha sido a principal motivação.

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