A fome é um problema político, diz Lula
O presidente afirmou que conversou com o papa Leão XIV sobre o combate à fome
247 - Em coletiva após seu encontro com o Papa Leão XIV no Vaticano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou com veemência sobre a necessidade de gerar uma mobilização global para combater a fome. Lula reforçou a ideia de que a fome não deve ser encarada como um problema econômico, mas sim como uma questão política que pode ser resolvida por um compromisso dos governantes mundiais.
“A fome não é um problema econômico, a fome é um problema político. Se houver interesse político dos governantes do mundo inteiro, se encontrará um jeito de colocar o café da manhã e o almoço na janta para o povo pobre do mundo inteiro”, afirmou o presidente. Para ele, a desigualdade alimentar é um reflexo das escolhas políticas globais, e é necessário uma mudança de perspectiva para garantir que todos tenham acesso ao básico: alimentação.
A crítica ao gasto militar e a urgência de ação
Lula fez uma dura crítica ao atual cenário mundial, no qual países ricos gastam fortunas em armamentos enquanto a fome segue sendo um problema estrutural. Ele citou os exorbitantes gastos militares globais de 2 trilhões e 700 bilhões de dólares, lembrando que apenas 12% desse valor — cerca de 300 bilhões de dólares — seria suficiente para alimentar 763 milhões de pessoas que sofrem com a fome. O presidente destacou a incoerência desse modelo de distribuição de recursos e cobrou uma mudança significativa nos rumos das políticas internacionais.
“Não tem explicação o mundo rico gastar 2 trilhões e 700 bilhões em armamentos, com apenas 12% disso, 300 e poucos bilhões, a gente poderia dar comida a 763 milhões de pessoas que passam fome”, disse Lula, demonstrando seu descontentamento com a falta de ação efetiva em prol da segurança alimentar mundial.
A fome no contexto da produção global de alimentos
Outro ponto importante abordado pelo presidente foi a relação entre a produção de alimentos e a fome no mundo. Lula refutou a ideia de que não seria possível produzir comida suficiente para alimentar a população mundial. Para ele, o problema não está na quantidade de alimentos produzidos, mas na distribuição e na falta de mecanismos que garantam o acesso dos mais pobres. O Brasil, segundo Lula, é um exemplo disso, pois é capaz de produzir alimentos em grande quantidade, mas ainda assim enfrenta problemas de desigualdade no acesso à alimentação.
“Há muito tempo atrás se diria que a gente não ia ter capacidade tecnológica de produzir alimento para acompanhar o crescimento da humanidade. E hoje nós produzimos quase duas vezes o alimento necessário”, destacou.
Lula defendeu que o foco deve ser garantir que os alimentos cheguem às pessoas que mais precisam e que isso só será possível com um aumento significativo da renda das camadas mais vulneráveis da população.
Compromisso com a justiça social em fóruns internacionais
O presidente também ressaltou que levará a questão da desigualdade para todos os fóruns internacionais em que participar. “Podem gostar ou não gostar, mas em todos os fóruns que eu participar, os dirigentes políticos vão ouvir eu falar da desigualdade racial, da desigualdade da comida, da desigualdade do salário, da desigualdade de tudo”, declarou. Lula reiterou seu compromisso com a luta contra a desigualdade, apontando que o sistema econômico atual leva a um mundo profundamente desigual.