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Globo minimiza barbárie de Claudio Castro ao defender operação com 121 mortos

Editorial do jornal carioca justifica ação policial mais letal da história do Rio e ignora denúncias de violações de direitos humanos

Globo minimiza barbárie de Claudio Castro ao defender operação com 121 mortos (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil )

247 - Em editorial publicado nesta sexta-feira (1º), intitulado “Denúncia comprova necessidade de ataque ao CV”, o jornal O Globo defendeu a megaoperação policial realizada nas comunidades da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais e quatro civis. O texto baseia sua argumentação em uma denúncia do Ministério Público que descreve a estrutura e as práticas do Comando Vermelho, incluindo torturas e execuções sumárias.

De acordo com o editorial, as informações apresentadas na denúncia comprovariam a “necessidade” da operação, vista como uma resposta ao domínio territorial da facção. O jornal descreve o CV como uma organização “hierarquizada e militarizada”, que impõe um “estado de exceção” nas áreas sob seu controle. O texto também cita que o enfrentamento ao tráfico deve ser acompanhado de políticas públicas, como educação e urbanização, mas destaca o caráter repressivo da ação policial como passo indispensável.

A posição do jornal, no entanto, contrasta com a reação de entidades de direitos humanos, juristas e moradores das comunidades, que classificaram a operação como a maior chacina da história do Rio de Janeiro. Para essas organizações, o número de mortos e as denúncias de execuções sumárias, invasões de domicílios e desaparecimentos colocam em dúvida a legalidade e a proporcionalidade da ação.

O Globo não menciona, em seu texto, as circunstâncias das mortes nem o impacto da operação sobre a população civil. Também não há referência às investigações abertas pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública, que apuram possíveis violações de direitos cometidas por agentes do Estado durante a incursão.

Críticos apontam que a linha editorial do jornal reproduz um discurso de segurança pública centrado no confronto armado, sem questionar a eficácia desse modelo, historicamente associado ao aumento da letalidade policial e à estigmatização das favelas. Em vez de abordar as causas estruturais da violência — como a ausência de políticas sociais e o abandono estatal —, o editorial reforça a narrativa de guerra, segundo a qual o uso da força é a principal forma de retomar o controle de territórios dominados pelo crime organizado.

Especialistas lembram que operações de grande escala raramente resultam em mudanças duradouras na dinâmica do tráfico. Estudos do Instituto de Segurança Pública (ISP) e de universidades fluminenses indicam que, após ações desse tipo, há um retorno rápido das facções e uma piora nas condições de vida das comunidades.

Ao defender a operação sem questionar seus resultados e consequências, o editorial de O Globo reabre um debate antigo no país: o papel da imprensa diante da violência de Estado. Para setores da sociedade civil, veículos de grande alcance deveriam contribuir para o escrutínio público das ações policiais — especialmente quando estas resultam em números tão elevados de mortes —, em vez de endossar a versão oficial antes da conclusão das investigações.

A megaoperação na Penha e no Alemão ainda está sendo investigada por órgãos estaduais e federais. Até o momento, nenhum relatório oficial apresentou conclusões sobre a responsabilidade pelas mortes ou sobre eventuais excessos cometidos. Enquanto isso, as famílias das vítimas aguardam respostas, e a discussão sobre os limites da atuação policial volta a expor a divisão entre segurança e direitos humanos no Brasil.

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