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      Apesar de pressões, Brasil rejeita tirar a COP30 de Belém

      As preocupações com a logística têm dominado o debate em torno da COP30, ofuscando as discusões sobre a política climática global

      Cidade de Belém - 11/10/2014 (Foto: REUTERS/Paulo Santos)
      Redação Brasil 247 avatar
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      BRASÍLIA/BRUXELAS (Reuters) - Apesar das crescentes pressões de outros países para que a COP30, ou ao menos parte dela, seja retirada de Belém, o governo brasileiro tem se recusado a considerar essa possibilidade, mesmo diante das dificuldades para se enfrentar a alta descontrolada de preços das acomodações na capital paraense.

      “A COP será em Belém, a cúpula dos líderes será em Belém”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, em uma videoconferência com jornalistas. “Não há plano B.”

      A menos de 100 dias para o início da cúpula do clima da ONU, as preocupações com a logística têm dominado o debate em torno da COP30, ofuscando as discusões sobre a política climática global.

      Os países em desenvolvimento alertaram que não podem arcar com os preços das acomodações em Belém, que dispararam em meio à escassez de quartos.

      Na semana passada, representantes de vários países pressionaram o Brasil a transferir a conferência para fora de Belém durante uma reunião de emergência no escritório climático da ONU, segundo Corrêa do Lago.

      O governo brasileiro prometeu voltar com soluções para uma próxima reunião, marcada para a semana que vem, mas fontes garantiram à Reuters que retirar a conferência de Belém não está entre as propostas.

      A preocupação não é de agora. Governos e o secretariado climático da ONU, conhecido como UNFCCC, têm levantado com o Brasil as questões sobre o preço e a falta de acomodações em Belém há meses.

      Na mesma reunião do escritório climático no mês passado, a UNFCCC informou aos participantes que havia aconselhado o Brasil a transferir partes da COP30 -- como a seção em que os líderes mundiais discursam -- para fora de Belém, a fim de aliviar a pressão sobre a hospedagem, de acordo com um resumo da reunião do escritório visto pela Reuters. O Brasil não aceitou essa ideia, segundo o resumo.

      Porta-vozes da UNFCCC procurados pela Reuters preferiram não comentar a questão.

      Questionado pela Reuters sobre a possibilidade de a sede da COP30 ser mudada, o Palácio do Planalto afirmou que "não há qualquer discussão para mudança da cidade-sede da COP30", e que "reitera seu compromisso com a realização de uma conferência climática ampla, inclusiva e acessível."

      O governo do Pará não respondeu a um pedido de comentário.

      Com 1,5 milhão de habitantes, Belém não tem uma quantidade expressiva de hotéis. Apesar do investimento feito pelo governo brasileiro para reestruturação da rede hoteleira visando a COP, os hotéis atuais estão cobrando 10 ou 15 vezes os preços regulares, quando em outras cidades onde a COP aconteceu esse aumento chegava no máximo a três vezes, disse Corrêa do Lago.

      “Talvez os hotéis não estejam cientes da crise que estão criando”, acrescentou.

      As preocupações manifestadas ao governo brasileiro, no entanto, não são apenas com a acomodação. Diversos países também levantaram questões sobre se os quartos oferecidos às delegações serão próximos o suficiente para que as negociações possam ocorrer sem problemas, se haverá opções suficientes de alimentação -- já que muitas pessoas ficarão em casas alugadas que não oferecem refeições -- e se os aeroportos locais poderão lidar com o fluxo de visitantes.

      Mas o Brasil tem afirmado que os preparativos para a conferência estão em dia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem demonstrado qualquer disposição para voltar atrás em sua promessa de apresentar a floresta amazônica ao mundo na COP30.

      O governo federal prevê um investimento de R$4 bilhões na melhoria da infraestrutura de Belém para sediar a conferência, somados a investimentos feitos também pelo governo do Estado.

      A decisão de sediar a COP em Belém, para além da ideia de mostrar a floresta amazônica ao mundo, passa pelo desejo do governador do Pará, Hélder Barbalho, de que a cúpula acontecesse em seu Estado, como uma maneira de atrair investimentos públicos e privados. O governador foi um aliado político fundamental de Lula nas eleições de 2022, e também será para 2026.

      O Brasil ofereceu de 10 a 15 quartos a preços de até US$220 por noite para delegações de países considerados entre os menos desenvolvidos do mundo. Mas esse valor excede os US$146 que a ONU oferece aos diplomatas desses países para pagar hospedagem, alimentação e transporte.

      Corrêa do Lago mostrou frustração visível ao falar com repórteres na sexta-feira, pois a questão da hospedagem tomou conta de um debate que deveria focar nas negociações já intensamente desafiadoras sobre como conter as mudanças climáticas.

      As questões de infraestrutura, disse ele, “estão interferindo no tempo que, no fundo, deveríamos usar para discutir questões substantivas”, afirmou.

      Na sexta-feira, o Brasil abriu uma plataforma de reservas ao público. Na manhã de segunda-feira, o site mostrava uma fila de espera de quase 2.000 pessoas, e a Reuters levou uma hora para conseguir acessá-lo. As tarifas variavam de US$360 a US4.400 por noite.

      (Reportagem de Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Kate Abnett, em Bruxelas)

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