Parceria entre Brasil 247 e Global Times

HOME > Global Times

O Japão se transforma em um desestabilizador da ordem internacional, afirma editorial do Global Times

Editorial afirma que governo japonês abandona o pacifismo do pós-guerra e aposta no militarismo

O Japão se transforma em um desestabilizador da ordem internacional, afirma editorial do Global Times (Foto: CGTN)

247 - O governo do Japão vem adotando, de forma contínua, uma postura que levanta sérias preocupações na comunidade internacional, ao combinar discursos beligerantes, revisão de compromissos históricos e iniciativas militares consideradas perigosas para a estabilidade regional. Trata-se de uma inflexão profunda que rompe com o papel assumido pelo país desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Essa avaliação é apresentada de maneira contundente em um editorial publicado pelo jornal chinês Global Times, com a assertiva de que o Japão deixa de ser um ator contido da ordem internacional do pós-guerra para se converter em um agente ativo de instabilidade na Ásia-Pacífico e no cenário global. O texto atribui essa mudança diretamente à condução política da primeira-ministra Sanae Takaichi e de seu núcleo mais próximo de aliados.

Segundo o editorial, Takaichi declarou publicamente que o Japão não descarta a introdução de submarinos nucleares e que o governo trabalha para revisar três documentos centrais de segurança e defesa com o objetivo de “estar preparado para um possível conflito militar prolongado”. Para o Global Times, esse discurso sinaliza uma ruptura explícita com a tradição pacifista japonesa e não pode ser tratado como mera retórica isolada.

O jornal aponta que aliados diretos da primeira-ministra reforçam essa orientação. Koichi Hagiuda, descrito como um de seus principais apoiadores, liderou um grupo de parlamentares japoneses em visita à região de Taiwan, onde se reuniu com Lai Ching-te. Paralelamente, a mídia japonesa revelou que outro aliado próximo de Takaichi, Oue Sadamasa, já havia defendido publicamente a possibilidade de o Japão possuir armas nucleares.

Para o Global Times, a origem desse comportamento está na incapacidade persistente do Japão de lidar de forma definitiva com seu passado militarista. O editorial ressalta que 2025 marca os 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial, um marco que deveria servir para reflexão histórica. Em sentido oposto, afirma que integrantes do governo Takaichi visitaram repetidamente o Santuário Yasukuni, classificaram a agressão japonesa como uma “guerra de autodefesa” e se referiram a criminosos de guerra de Classe A como “espíritos heroicos”.

O texto sustenta que essa visão distorcida da história se traduz em decisões políticas concretas. Entre elas, estariam a tentativa de revisar os “Três Princípios Não Nucleares”, o afrouxamento sistemático das restrições militares e o questionamento de documentos jurídicos internacionais como a Declaração do Cairo e a Proclamação de Potsdam. O editorial lembra que o próprio Instrumento de Rendição do Japão estabelece o compromisso de cumprir “as disposições da Declaração de Potsdam de boa-fé”.

Na área de defesa, o Global Times afirma que, após assumir o cargo, Takaichi elevou rapidamente os gastos militares para mais de 2% do Produto Interno Bruto e flexibilizou regras para exportação de armamentos. O envio de mísseis de longo alcance para as Ilhas do Sudoeste e os sinais de interesse na aquisição de armas nucleares são descritos como evidências de uma chamada “capacidade de contra-ataque” com características preventivas e ofensivas.

O editorial dedica atenção especial à questão nuclear, acusando Tóquio de demonstrar desrespeito ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Na avaliação do jornal, essa postura representa uma das maiores ameaças à segurança nuclear no Leste Asiático e até mesmo em escala global.

A diplomacia japonesa também é retratada como contraditória e enganosa. Embora o governo Takaichi afirme estar “aberto ao diálogo” com a China, o texto aponta provocações recorrentes em relação a Taiwan. Entre o fim de dezembro e o início de janeiro de 2026, cerca de 30 parlamentares japoneses devem visitar a ilha, enquanto Iwasaki Shigeru, ex-chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças de Autodefesa do Japão, assumiu o cargo de “consultor político” das autoridades taiwanesas, cruzando, segundo o editorial, uma linha sensível nas relações regionais.

O Global Times sustenta que esse padrão de discurso conciliador combinado com ações provocativas repete práticas históricas do Japão anteriores a conflitos armados. O jornal afirma que, após décadas cultivando a imagem de “nação pacífica”, o atual governo tenta agora se apresentar como “vítima” e promover uma narrativa de “intimidação chinesa” para ocultar uma agenda expansionista.

As críticas se estendem à atuação regional do Japão em disputas territoriais e à sua influência em divisões entre países vizinhos. O editorial cita o comentarista político sul-coreano Hanjin Lew, que escreveu no Asia Times que, em apenas dois meses de governo, a postura beligerante de Sanae Takaichi acelerou a crise regional e contribuiu para o isolamento do próprio Japão.

Ao concluir, o Global Times afirma que o retorno do revisionismo histórico aliado ao expansionismo militar representa um risco direto à paz regional e global. Segundo o editorial, ao enfraquecer compromissos do pós-guerra, ampliar sua capacidade bélica e fomentar divisões na Ásia-Pacífico, o Japão consolida um papel que ameaça a estabilidade internacional e desafia a ordem construída após a Segunda Guerra Mundial.

Artigos Relacionados