Prefeitura de SP constrói muro e cerca usuários da cracolândia

247 - A Prefeitura de São Paulo construiu um muro de 40 metros de extensão e 2,5 metros de altura na região central da cidade, na Cracolândia, em Santa Ifigênia. Segundo a administração municipal, a medida visa melhorar o atendimento aos usuários de drogas, garantir a segurança das equipes que atuam na área e facilitar o trânsito de veículos. A informação foi divulgada pelo G1.

A construção, localizada na Rua General Couto Magalhães, é parte de uma intervenção mais ampla que inclui o uso de gradis para delimitar a área conhecida como "fluxo". Com isso, o local assume o formato de um triângulo cercado, limitando a movimentação dos frequentadores. Embora a prefeitura argumente que os usuários podem sair livremente, ativistas denunciam restrições e revistas realizadas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Para Roberta Costa, representante do coletivo Craco Resiste, o muro simboliza uma grave violação dos direitos humanos. "A gente vive hoje na cidade uma cena absurda e bizarra de violência contra as pessoas que estão desprotegidas socialmente", afirmou. Ela critica a medida, que, segundo ela, "cobre" a Cracolândia do olhar de quem transita pela região e isola ainda mais os usuários.

Debate sobre o impacto social

A administração municipal afirmou que o número médio de pessoas no local diminuiu em 73,14% entre janeiro e dezembro de 2024. Apesar disso, a abordagem é alvo de fortes críticas de movimentos sociais. Roberta descreveu o cenário como um "campo de concentração de usuários", denunciando ainda que ações humanitárias têm sido bloqueadas pela gestão.

"Dia 22 de dezembro fomos fazer um Natal, levamos frutas, comida e arte, e impediram a gente de acessar as pessoas. Então não cuidam e também nos impedem de cuidar", relatou.

Segundo os ativistas, quem tenta sair da área cercada ou permanecer nas calçadas próximas é frequentemente alvo de spray de pimenta, uma medida que reforça as críticas sobre a truculência do poder público.

Uma intervenção controversa

Enquanto a prefeitura sustenta que as intervenções buscam melhorar a dinâmica local, movimentos como o Craco Resiste apontam que as ações contribuem para a invisibilização dos problemas sociais da região. Para Roberta Costa, "o que a gente viu acontecer no ano passado está num nível muito bizarro".

A Cracolândia tem sido palco de debates acalorados sobre segurança pública e políticas sociais há décadas. As medidas mais recentes reacendem a discussão sobre a efetividade de ações punitivas em detrimento de estratégias de acolhimento e reabilitação.