HOME > Geral

Cachaça com metanol e o drinque "bombeirinho": casos antigos se repetem

Histórico de bebidas adulteradas com metanol no Brasil mostra que tragédia vivida hoje em São Paulo não é inédita

Garrafas de bebidas alcoólicas (Foto: Reuters/Flavio Lo Scalzo)

247 - O alarme sobre mortes provocadas por bebidas adulteradas não é novidade no Brasil. Em novembro de 1997, na cidade de Serrinha, a 173 km de Salvador, o dono de uma funerária percebeu um aumento incomum de caixões vendidos: 11 em apenas uma semana. As vítimas tinham em comum o consumo da cachaça caseira Pé No Pote. Dias depois, exames confirmaram que a bebida estava contaminada com metanol, substância altamente tóxica.

Segundo reportagem do Acervo O Globo, a tragédia baiana guarda semelhança com os casos recentes registrados no Estado de São Paulo, onde já foram confirmadas cinco mortes e outros 22 casos suspeitos de intoxicação por metanol. Assim como em Serrinha, as vítimas paulistas começaram a passar mal pouco depois da ingestão da bebida, apresentando vômitos, dores abdominais fortes e perda da visão.

Bahia, 1997: mortes após consumo de cachaça

Na investigação conduzida pela Vigilância Sanitária da Bahia, mais de 1,3 mil litros da cachaça Pé No Pote foram recolhidos em bares e outros 700 litros encontrados em um depósito clandestino. O então chefe do órgão, Antônio Siqueira, relatou episódios dramáticos: "Houve até o caso de um senhor que morreu num dia e no dia seguinte morreu a mulher. Os dois haviam bebido a cachaça".

O metanol, usado na indústria de plásticos, solventes, tintas e como combustível, é letal quando ingerido. Seus efeitos incluem falência de órgãos, cegueira irreversível e, em muitos casos, morte.

São Paulo, anos 1990: jovens vítimas do "bombeirinho"

Entre dezembro de 1992 e janeiro de 1993, a região do ABC Paulista também foi marcada por uma tragédia semelhante. Na noite de 26 de dezembro de 1992, 23 jovens foram hospitalizados após beber um drinque chamado “bombeirinho” em uma casa noturna em Diadema. A mistura, que levava vodca, groselha, limão e açúcar, estava contaminada com metanol. Três pessoas morreram.

A estudante Tânia Cristina Cardoso, de 21 anos, apresentou os sintomas no dia seguinte, tomou um analgésico e foi encontrada morta pouco depois. Outra jovem, Andreia Mara Vicente, também de 21 anos, perdeu a visão após ingerir a bebida “vodca coquinho” em Santo André. Já o pintor Joaquim Evangelista morreu menos de 24 horas depois de passar mal com a bebida contaminada em bares da Zona Leste de São Paulo.

As autoridades interditaram bares suspeitos e apreenderam dezenas de litros de vodca. Em um dos estabelecimentos, os exames mostraram 17% de metanol misturado à bebida. O proprietário, Luciano Parizzotti, afirmou na época: “Compramos a bebida confiando nos argumentos do vendedor”.

Passado e presente

Os episódios em Serrinha e no ABC Paulista nos anos 1990 expõem um padrão que se repete hoje em São Paulo: a adulteração criminosa de bebidas alcoólicas com metanol, que transforma momentos de lazer em tragédias coletivas.

Seja na cachaça artesanal da Bahia ou nos drinques industrializados do ABC, o resultado foi o mesmo: mortes, cegueira e sequelas graves. Agora, com novos casos de intoxicação em território paulista, autoridades estaduais e federais reforçam investigações para conter a circulação de álcool adulterado.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...