Zagueira da seleção inglesa denuncia racismo e abandona redes sociais: "Não é aceitável atacar aparência ou raça"
Jess Carter expõe ataques sofridos na Euro 2025 e recebe apoio da equipe, da FA, da Uefa e de figuras como Keir Starmer e Gianni Infantino
247 - A zagueira inglesa Jess Carter, titular nas quatro partidas da seleção feminina na Eurocopa 2025, revelou neste domingo (20) que tem sido vítima de ataques racistas desde o início do torneio, disputado na Suíça.
A denúncia foi feita em uma publicação no Instagram, na qual a jogadora de 27 anos anunciou seu afastamento das redes sociais para preservar sua saúde mental. A informação é do The Guardian.
"Embora todo torcedor tenha direito à sua opinião sobre desempenho e resultado, não concordo ou acho que seja aceitável atacar a aparência ou raça de alguém", escreveu Carter. Ela também afirmou que a decisão visa ajudá-la a manter o foco: "Estou tomando esta medida para me proteger na tentativa de manter meu foco em ajudar a equipe de qualquer maneira que eu puder".
Na mesma declaração, a atleta, que é negra, destacou a importância de se posicionar: "Espero que falar abertamente faça com que as pessoas que escrevem esses abusos pensem duas vezes para que outros não tenham que lidar com isso".
Reação do time e mudança de postura
As Lionesses enfrentam a Itália na semifinal do torneio nesta terça-feira (22), em Genebra. Em jogos anteriores, a equipe vinha adotando o gesto simbólico de se ajoelhar antes das partidas como manifestação contra o racismo. Desta vez, no entanto, decidiram alterar a abordagem. "Está claro que nós e o futebol precisamos encontrar outra maneira de combater o racismo, concordamos como equipe em permanecer em pé antes do início do jogo na terça-feira", informou o grupo em comunicado. "Aqueles por trás do veneno online devem ser responsabilizados."
Internamente, o impacto foi forte. Segundo a defensora Lucy Bronze, a equipe técnica e as jogadoras se reuniram no sábado (19) para tratar do caso. "Todos nós sabemos que qualquer jogador de cor que tenha jogado pela Inglaterra provavelmente passou por abuso racista", declarou Bronze, comovida e visivelmente abalada durante entrevista coletiva. "Havia muita raiva. É raiva e tristeza que nossas companheiras de equipe estão passando por isso."
Ela acrescentou: "Queremos nos concentrar no futebol. Queremos que Jess e qualquer outra pessoa que vista a camisa da Inglaterra seja corajosa, seja feliz quando jogar pela Inglaterra, tenha o apoio dos torcedores em tudo isso".
Repercussão e apoio institucional
A Associação de Futebol da Inglaterra (FA) classificou os ataques como "racismo repugnante" e anunciou que está colaborando com a polícia do Reino Unido para identificar os autores. “Condenamos veementemente os responsáveis por este racismo repugnante. [...] Infelizmente, esta não é a primeira vez que isso acontece com um jogador da Inglaterra”, afirmou Mark Bullingham, CEO da FA. A entidade também acionou a rede social onde os ataques ocorreram para responsabilizar os agressores.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também prestou solidariedade à jogadora: "Não há lugar para o racismo no futebol ou em qualquer lugar da sociedade", escreveu no X (antigo Twitter). "Eu apoio Jess, as Lionesses e quaisquer jogadores que sofreram racismo, dentro e fora de campo."
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, publicou nota semelhante. “Estou profundamente entristecido pelo abuso online direcionado a Jess Carter [...]. Não há lugar para o racismo no futebol ou na sociedade”, declarou.
Clubes e instituições do futebol também manifestaram apoio. O Gotham FC, equipe de Carter nos Estados Unidos, a National Women’s Soccer League (NWSL), a UEFA e a própria seleção inglesa divulgaram notas públicas. “Representar seu país é a maior honra. Não é certo que, enquanto estamos fazendo isso, algumas de nós sejam tratadas de forma diferente simplesmente por causa da cor de nossa pele”, diz trecho da nota oficial das Lionesses.
Já a Uefa ressaltou: “Abuso e discriminação nunca devem ser tolerados, seja no futebol ou na sociedade, pessoalmente ou online. Estamos com Jess”.
Histórico preocupante
Casos de racismo contra atletas da seleção inglesa não são novidade. Após a derrota na final da Eurocopa masculina de 2020, Marcus Rashford, Bukayo Saka e Jadon Sancho também foram alvos de ataques online, o que levou à prisão de cinco indivíduos na época. O episódio reacende o debate sobre medidas eficazes de combate ao racismo nos esportes, especialmente nas plataformas digitais.
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