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"O colapso da Síria não encerra a luta palestina", diz Breno Altman

Instabilidade geopolítica intensifica desafios para o povo palestino

(Foto: Brasil247 | REUTERS/Mohamed Azakir)
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247 - Em uma análise recente no canal Opera Mundi, o jornalista Breno Altman destacou como a queda do governo de Bashar al-Assad na Síria e o subsequente rearranjo político moldam a geopolítica do Oriente Médio, afetando diretamente a luta palestina. Segundo Altman, apesar das derrotas estratégicas sofridas pelo chamado "Eixo da Resistência", o conflito pela causa palestina está longe de terminar.

A Síria como eixo estratégico

Antes da guerra civil iniciada em 2011, a Síria, mesmo com suas contradições internas, era um aliado tácito da resistência palestina. Embora o governo de Assad não mantivesse uma política ativa de apoio direto ao Hamas, sua aliança com o Irã e o Hezbollah garantiu uma rota logística fundamental para o movimento xiita libanês e, indiretamente, para outras organizações opositoras a Israel.

Com a fragmentação territorial da Síria, o cenário mudou drasticamente. O avanço do grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), sucessor da Frente al-Nusra, impôs uma nova ordem nas regiões controladas por fundamentalistas islâmicos. O HTS, em busca de aceitação internacional, moderou sua retórica em relação a Israel e se afastou da agenda pró-Palestina, priorizando a consolidação de seu poder interno.

Expansão de Israel e medo de novos conflitos

Israel, por sua vez, aproveitou a instabilidade síria para intensificar ataques aéreos e expandir sua influência militar na região. Como Altman aponta, a ofensiva israelense contra alvos sírios logo após a queda de Assad revela um duplo objetivo: prevenir uma possível retomada da resistência anti-Israel e consolidar o controle sobre territórios estratégicos, como as Colinas de Golã.

Cenário incerto para a Palestina

Apesar das aparentes derrotas geopolíticas, Altman argumenta que a luta palestina não está perdida. O colapso sírio, embora debilitante para o chamado "Eixo da Resistência", não encerra o jogo. O Irã, Rússia e China continuam sendo atores fundamentais na região, e sua influência pode ser decisiva no futuro rearranjo das forças no Oriente Médio.

Além disso, a persistência do Hamas em Gaza e a resistência dos houthis no Iêmen mostram que, mesmo cercados por inimigos e sob bloqueios severos, movimentos de resistência podem sobreviver e se adaptar às novas circunstâncias.

Riscos de desintegração estatal

Uma das grandes preocupações abordadas na análise é o risco de a Síria se tornar um Estado fracassado. A possibilidade de "balcanização" — termo usado para descrever a fragmentação de um território em várias regiões controladas por diferentes grupos — é real, como já ocorreu nos Balcãs durante os anos 1990.

Se isso ocorrer, o Oriente Médio pode enfrentar uma nova onda de conflitos sectários e intervenções estrangeiras. A fragmentação síria interessa a potências como Estados Unidos, Israel e Turquia, que buscam aumentar sua influência geopolítica enquanto enfraquecem adversários regionais.

Conclusão: o futuro ainda está em disputa

Apesar dos prognósticos sombrios, Altman ressalta que a causa palestina mantém sua relevância histórica e política. "O fim do regime de Assad é uma derrota para o Eixo da Resistência, mas isso não significa que a luta palestina tenha sido enterrada", afirma. A continuidade dessa luta dependerá da capacidade das forças regionais de se reorganizarem e de enfrentarem os desafios impostos pela nova ordem geopolítica.

Enquanto isso, o futuro da Síria permanece incerto, em um cenário de alianças voláteis e conflitos persistentes. A guerra pela definição do Oriente Médio continua aberta, e o impacto na causa palestina ainda está longe de ser decidido. Assista: 

 

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