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Manuel Domingos: "O governo renunciou ao comando das Forças Armadas"

Historiador critica atuação de José Múcio no Ministério da Defesa e alerta para a falta de diretrizes claras para a Defesa Nacional

(Foto: ABR | Brasil247)
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247 - Uma entrevista concedida por Manuel Domingos Neto ao programa Boa Noite 247 trouxe à tona duras críticas ao papel desempenhado pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, no contexto da articulação política e militar brasileira. O historiador e professor destacou que, embora não haja dúvidas sobre a tentativa de golpe, a condução do diálogo entre o governo Lula e os comandos militares ainda deixa lacunas preocupantes.

"A rigor, não teve nada de novo nas declarações de Múcio", afirmou Manuel Domingos, ressaltando que as declarações do ministro já haviam sido feitas anteriormente, mas continuam a causar mal-estar. Segundo ele, a fala de Múcio sobre ter solicitado ajuda ao ex-presidente Jair Bolsonaro para dialogar com os comandantes militares é "extremamente desabonadora" para a autoridade do presidente Lula. "Quer dizer que foi o Bolsonaro quem permitiu que o ministro da Defesa exercesse sua função? Isso é uma coisa absurda", completou o historiador.

"O Exército está mais preocupado com sua imagem"

Durante a entrevista, Manuel Domingos apontou que, após o fracasso da tentativa de golpe, as Forças Armadas, em especial o Exército, estão focadas em recuperar a imagem da corporação. "Hoje, o Exército está muito mais preocupado em refazer a imagem do que em causar instabilidade política", destacou. Para ele, os comandantes têm se esforçado para conter manifestações de ruptura interna, ainda que a "família militar" — composta por reservistas e policiais da reserva — continue sendo uma voz mais solta e difícil de controlar.

Sobre a manutenção de Múcio no cargo, Manuel Domingos foi categórico: "O presidente Lula tem buscado evitar novos atritos com as Forças Armadas, mas o preço dessa postura conciliadora pode ser alto". Ele defendeu a necessidade de uma reforma profunda nas Forças Armadas e uma reorientação da política de defesa nacional. "O Brasil vive um histórico golpista muito acentuado e o mundo está altamente explosivo. Precisamos de forças armadas minimamente habilitadas para enfrentar tensões externas, mas seguimos presos a uma estrutura voltada para intervenção interna."

"O comando político precisa ser retomado"

A crítica de Manuel Domingos vai além do ministro da Defesa. Ele questiona a autonomia histórica das Forças Armadas no Brasil, que, segundo ele, precisa ser reduzida para fortalecer o comando civil. "O presidente da República é o comandante supremo das Forças Armadas. Militar se ordena, se comanda. A relação com o militar não é uma relação política; é uma relação de hierarquia. Quem está no topo deve ser respeitado."

A entrevista termina com uma reflexão sobre a luta ideológica que ainda permeia o Brasil e a dificuldade de Lula em conciliar diferentes forças no governo. "O presidente Lula, por mais moderado que seja, persiste como símbolo da democracia no Brasil. Enquanto ele mantiver essa posição, será permanentemente atacado pelas forças direitistas", afirmou.

A importância de uma nova política de defesa

Para Manuel Domingos, o atual governo tem deixado de lado a discussão sobre uma verdadeira política de defesa nacional. "Ainda somos altamente dependentes de grandes potências em termos de tecnologia e armamentos. Isso é uma fragilidade estratégica que precisa ser superada com urgência."

A postura de José Múcio foi descrita como ambígua e pouco alinhada com as diretrizes de uma defesa nacional independente. "Não temos, hoje, um ministro da Defesa que represente de fato a República. Ele parece mais um representante dos comandantes militares do que alguém comprometido com a soberania civil e democrática do país."

Contas a prestar

O historiador foi categórico ao afirmar que tanto o general Dutra quanto o general Arruda, ex-comandantes do Exército e do Comando Militar do Planalto, têm responsabilidades a esclarecer em relação aos episódios do 8 de janeiro, quando os prédios dos três Poderes foram atacados em Brasília. "Eles não conseguiram defender o Planalto. Há contas a prestar, e espero que não recebam a quarta estrela. Esse episódio mostra a fragilidade das instituições democráticas no Brasil", pontuou.

Domingos Neto ainda criticou a postura de certos setores das Forças Armadas que insistem em manter práticas autoritárias e ressaltou que o controle sobre essa estrutura é essencial para a defesa da democracia. "Não se pode brincar com o fascismo. Precisamos difundir uma noção clara de defesa democrática, garantindo a subordinação das corporações militares ao poder político", afirmou.

A necessidade de uma reforma nas Forças Armadas

O professor alertou para a urgência de uma profunda reforma nas Forças Armadas brasileiras. "Nós não temos uma estrutura preparada para enfrentar uma agressão externa. O que temos é uma força capaz de exercer controle sobre a sociedade brasileira, e isso precisa acabar", argumentou. Ele defendeu uma redefinição do papel das Forças Armadas, que hoje se confunde entre missões de polícia e defesa nacional.

Segundo Manuel Domingos Neto, a recente postura complacente diante dos acontecimentos de 8 de janeiro passa um recado perigoso. "É como dizer que golpes são possíveis e que a estabilidade democrática no Brasil não existe", criticou. Para ele, a resposta precisa ser política, e não meramente jurídica. "O que nós precisamos é defender a democracia de forma ativa e articulada, porque as instituições estão profundamente contaminadas pelo autoritarismo", concluiu. Assista:

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