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Guido Mantega: "Lula conseguiu sair do paredão do Banco Central"

Ex-ministro afirma que governo reverteu “terrorismo fiscal”, elogia Galípolo e diz que Lula deve fazer “fala forte” na ONU sobre sanções dos EUA

Guido Mantega: "Lula conseguiu sair do paredão do Banco Central" (Foto: Divulgalção )

247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, Guido Mantega afirmou que o governo Lula conseguiu “desmontar” uma estratégia que, segundo ele, buscava emparedar a gestão por meio da política monetária. A conversa, disponível no vídeo “Guido Mantega: ‘Lula conseguiu sair do paredão do Banco Central’”, serve de base para esta matéria e é a fonte original das declarações.

Ao longo do programa, Mantega sustenta que houve uma inflexão na condução do câmbio e da taxa de juros desde o início do ano. Para ele, esse movimento tirou o governo do “paredão” construído na gestão anterior do Banco Central. “Olha, eu tô feliz porque finalmente o governo conseguiu desmontar aquela trama que foi criada pelo Roberto Campos, para paralisar o governo Lula”, disse o ex-ministro da Fazenda.

Câmbio no centro da estratégia

Mantega atribui à mudança na política cambial o alívio recente nos preços dos alimentos e a melhora na percepção de consumidores. “A variável importante é o câmbio”, afirmou. Segundo ele, a priorização de estabilizar o dólar abriu espaço para a normalização gradual dos juros: “A estratégia foi, bom, a primeira coisa que nós precisamos fazer é baixar esse dólar aqui”.

Nesse contexto, o ex-ministro elogiou a atuação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Rebatendo críticas, disse não ver continuidade da orientação anterior. “Não dá para dizer que o Banco Central tá fazendo a mesma política [de antes]. (…) O Galípolo passou a intervir e, evidentemente, ele passou a combater o principal problema que nós tínhamos… uma inflação de alimentos causada em grande parte pelo câmbio”, declarou. Ele ponderou, porém, que a manutenção de juros altos serviu como ponte para reverter fluxos de capital: “Se tem alguém aqui que é inimigo de juro alto, sou eu… mas agora vai ser consertada porque se criaram as condições”.

“Terrorismo fiscal” e giro do mercado

Na avaliação de Mantega, houve um “terrorismo fiscal” a partir de discursos que previam desequilíbrio nas contas públicas e alta de juros, o que teria alimentado pressões cambiais no primeiro semestre do ano. Para ele, o cenário começou a se inverter com uma sinalização mais firme da autoridade monetária e a consequente mudança de posição no mercado de derivativos. “Hoje a situação é: o pessoal tá vendido em dólar, tá se desfazendo do dólar e comprando reais. Essa foi a grande jogada”, afirmou.

O ex-ministro relaciona essa guinada à queda recente de preços no varejo alimentar, citando relatos de consumidores. Na sua leitura, a combinação de câmbio mais favorável e comunicação mais assertiva do governo contribuiu para uma percepção econômica melhor na base da sociedade.

ONU, sanções e o tabuleiro geopolítico

Questionado sobre a viagem de Lula à Assembleia-Geral da ONU, Mantega defendeu um posicionamento firme em relação às restrições impostas por Washington. “Sem dúvida, o presidente vai fazer uma fala forte”, disse ele, ao comentar a expectativa de reações dos Estados Unidos. Em todo o programa, Donald Trump — o atual presidente dos Estados Unidos — é citado como protagonista de um ambiente de pressão econômica sobre o Brasil. Para Mantega, o país diversificou mercados e estreitou laços no Brics, reduzindo a eficácia de medidas unilaterais.

O ex-ministro também aventou riscos adicionais — como eventuais restrições relacionadas à importação de diesel da Rússia —, mas avaliou que o momento doméstico é de maior resiliência. “A nossa economia gerida pelo Haddad com o Lula, ela se aguenta? (…) Eu acho que ele [Trump] tá numa fase ruim… não tá conseguindo alcançar os seus objetivos”, afirmou, projetando que a simplificação tarifária em alguns itens no exterior indica limitações dessa estratégia.

Aprovação e ruído político

Mantega relacionou a melhora de indicadores à percepção pública sobre o governo. Na sua leitura, a desaceleração da inflação de alimentos reduz o “mal-estar” nas compras do mês e ajuda a recompor o poder de compra, mesmo diante de juros ainda elevados. Ele acredita que, mantida a tendência, haverá ambiente para início de um ciclo de corte de juros, ainda que de forma gradual, com impacto sobre emprego e renda.

Ao defender que Lula leve à ONU um discurso de soberania, Mantega resumiu: “O Brasil é um país soberano, não vai aceitar essas provocações, essa chantagem que é feita pelos Estados Unidos”, disse, reforçando que Lula deve aproveitar o palco multilateral para demarcar posição. Assista:

 

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