“Eles queriam nos matar": Thiago Ávila narra torturas, greve de fome e resistência após sequestro da Flotilha
Em entrevista exclusiva `TV 247, o ativista Thiago Ávila conta os bastidores do sequestro pelas tropas de ocupação de Israel após o ataque à Flotilha
247 - O ativista brasileiro Thiago Ávila, integrante da Flotilha pela Liberdade, fez um relato sobre os dias em que esteve detido por forças israelenses, após o ataque e sequestro da embarcação que levava ajuda humanitária ao povo palestino. Segundo ele, a repressão foi mais violenta do que em qualquer outra missão internacional realizada pelo movimento.
Ele conta que logo após a interceptação, os ativistas foram levados ao porto de Ashdod, onde Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel — que Ávila chama de “criminoso de guerra” — esteve presente. Enquanto Ben-Gvir discursava à imprensa local, os prisioneiros eram submetidos a agressões, humilhações e tentativas de coerção.
“Já estavam com a minha cabeça esmagada no asfalto e a da Greta em outro canto”, relatou. Documentos foram apresentados para forçar confissões falsas de crimes que jamais cometeram.
Transferidos para o presídio de segurança máxima de Ktzi’ot, no deserto de Neguev, os ativistas enfrentaram condições brutais: negação de água, comida, acesso ao banheiro e à saúde. Diabéticos ficaram três dias sem insulina. Como forma extrema de resistência, Thiago decidiu iniciar uma greve de sede, além da greve de fome coletiva que já acontecia desde a captura. “Dissemos que não iríamos esperar eles matarem alguém para entregarem os remédios”, recorda. A mobilização dentro das celas se transformou numa verdadeira rebelião.
Ávila descreve ainda a rotina de tortura psicológica: soldados invadiam as celas de hora em hora durante a madrugada, impedindo qualquer possibilidade de sono. Cães, escopetas e lasers eram usados para intimidar os presos. Ele, identificado como organizador internacional da Flotilha, passou por interrogatórios prolongados e trocas constantes de cela. “Dá para ver nos olhos dos soldados o que eles queriam fazer: nos matar. Só não fizeram porque havia visibilidade internacional.”
Apesar da gravidade das violações, Thiago enfatiza que o sofrimento vivido pelos estrangeiros não se compara ao que enfrentam diariamente os palestinos dentro do sistema prisional israelense.
“Eles não podiam nos eliminar, mas fazem isso com o povo palestino todos os dias”, destaca. Atualmente, mais de 150 pessoas da segunda e seis da primeira onda da Flotilha seguem presas, enquanto palestinos continuam sendo encarcerados em massa.
“Seguiremos organizando novas flotilhas, porque a paz só virá com justiça. Aquelas crianças amputadas sem anestesia têm os mesmos direitos que a minha filha, que a filha de cada pessoa que está nos assistindo”, frisou.
Solidariedade
Thiago Ávila fez questão de destacar a importância da solidariedade internacional e da atuação de veículos comprometidos com a causa palestina. Segundo ele, sem essa mobilização, a situação dos 462 participantes poderia ter sido ainda mais trágica.
“Primeiro eu queria mandar um abraço para a comunidade do 247. Vocês sempre estiveram junto com o povo palestino, sempre divulgaram todas as flotilhas desde o início, e a presença e a força de vocês fez toda a diferença mais uma vez, gente. Literalmente a vida de cada uma daquelas 462 pessoas dependia de vocês”, afirmou Ávila.
Para o ativista, a visibilidade dada por meios independentes e redes solidárias foi determinante para impedir uma escalada ainda maior de violência dentro das prisões israelenses. Ele enfatizou que a pressão pública internacional evitou que os detidos fossem completamente isolados e submetidos a condições ainda mais extremas.


