“COP vai focar na entrega e na ação concreta pelo clima”, diz Ana Toni
Diretora-executiva da COP 30 detalha os desafios e metas da conferência que ocorrerá em Belém e pode marcar uma virada na luta contra a crise climática
247 - Em novembro, o Brasil sediará um dos eventos internacionais mais relevantes do século: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá em Belém, no Pará. Em entrevista ao canal Gov, a diretora-executiva da conferência, Ana Toni, afirmou que a principal missão do encontro será sair do campo das promessas e avançar para a implementação efetiva de políticas climáticas.
A entrevista foi publicada originalmente no YouTube, no episódio “Estúdio COP 30 | Ana Toni”, e integra uma série de conteúdos preparatórios para o evento. Ao longo da conversa, Ana Toni destacou que esta será a “COP da entrega”, quando os países precisarão mostrar resultados concretos no combate à crise climática.
A hora da ação: implementação como foco central
Para Ana Toni, a COP 30 representa um momento crucial na trajetória das conferências climáticas, que já somam três décadas. “Estamos na 30ª edição. O arcabouço legal já existe. Agora, precisamos acelerar a implementação. Esse é o grande mote da nossa COP”, declarou.
Ela enfatizou que, embora muitos países já estejam adotando medidas — como o Brasil, com sua matriz energética majoritariamente limpa e o combate ao desmatamento —, os esforços ainda estão aquém do necessário. “Todo mundo já está fazendo algo, mas a crise exige muito mais. E aqueles países que historicamente mais poluíram têm a responsabilidade de contribuir mais”, afirmou, mencionando diretamente os Estados Unidos e a Europa.
Amazônia no centro do debate climático global
A escolha de Belém como sede do encontro tem um forte simbolismo. Para a diretora-executiva, trazer a conferência à Amazônia é uma maneira de colocar a floresta — e seus povos — como protagonistas do debate climático. “Não basta falar da Amazônia. É preciso conhecê-la, viver sua realidade, entender que ali vivem pescadores, seringueiros, agricultores, povos indígenas e quilombolas que precisam ser respeitados e apoiados”, declarou.
Nesse sentido, foi criado o Círculo dos Povos, estrutura liderada pela ministra Sônia Guajajara, que garantirá a participação ativa de populações indígenas, tradicionais e afrodescendentes na governança da COP 30. “Não haverá na história uma COP com tanta presença de povos tradicionais quanto essa”, disse Toni.
Financiamento, oceanos e transição energética
Além da proteção florestal, a diretora apontou três grandes eixos de debate da conferência: financiamento climático, transição energética e a integração dos oceanos à agenda climática. Ela lembrou que, embora os recursos existam, eles estão concentrados em poucos países. “O desafio é fazer com que esses recursos cheguem aos países do Sul global, como o Brasil. Temos instrumentos prontos para receber investimentos, como o Fundo Amazônia, o Fundo Clima e a Plataforma Brasil de Investimentos.”
No campo da energia, Ana Toni ressaltou que a transição para fontes renováveis não será imediata, mas precisa ser planejada. “A dependência dos combustíveis fósseis não vai acabar do dia para a noite, mas o importante é sentar à mesa e definir como será essa transição.”
Sobre os oceanos, destacou que o tema sempre teve pouca visibilidade nas COPs. A atual presidência brasileira busca mudar esse quadro com a nomeação de um enviado especial e a criação de um pavilhão temático. “Os oceanos são o maior regulador do clima e precisam estar integrados aos planos nacionais”, afirmou.
Cidadãos e governos locais como agentes de mudança
Ana Toni também abordou o papel dos cidadãos na transformação climática: “Se você não é parte da solução, então é parte do problema. É preciso se perguntar o que você pode fazer no seu dia a dia.”
Ela defendeu que todos os setores da sociedade devem atuar juntos: consumidores, empresas, governos, educadores. Destacou ainda a importância dos prefeitos e prefeitas, que estão na linha de frente diante dos efeitos da emergência climática. “Quando há uma enchente, é para o governo local que a população recorre. Por isso é fundamental que eles estejam preparados. O programa Adapta Cidade, do Ministério do Meio Ambiente, já auxiliou mais de 600 municípios a criarem seus próprios planos climáticos.”
O legado da COP 30: acelerar e escalar soluções
O encerramento da entrevista foi marcado por uma reflexão sobre o futuro: como a COP 30 será lembrada daqui a 30 anos? Ana Toni respondeu com esperança e determinação: “Espero que seja vista como a conferência da virada, em que conseguimos acelerar a implementação das soluções. Muitas já existem — biocombustíveis, reflorestamento, agricultura sustentável —, agora precisamos ampliá-las e torná-las economicamente viáveis.”
Ela concluiu destacando o papel do Brasil no cenário internacional: “Somos um país com vantagens comparativas gigantescas para oferecer soluções climáticas ao mundo. Mas precisamos atrair investimentos sustentáveis a um custo acessível. Essa será uma das pautas mais importantes da conferência.”
A expectativa é que a COP 30 consolide o Brasil como liderança global na agenda climática e marque o início de um novo ciclo de ação, com foco em resultados concretos e justiça ambiental. Assista: