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“Cláudio Castro é um genocida”, diz Marcelo Dias

Advogado Marcelo Dias acusa governador do Rio de promover política de extermínio nas favelas e cobra ação federal na segurança pública

“Cláudio Castro é um genocida”, diz Marcelo Dias (Foto: Alerj | ABR )

247 - O advogado Marcelo Dias, integrante da Frente Democrática da Advocacia e da Frente de Juristas Negras e Negros, afirmou que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, conduz uma política de segurança baseada no extermínio da população das favelas. A declaração foi dada em entrevista ao Giro das Onze, em que o advogado denuncia o que descreve como uma chacina ocorrida na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte da capital fluminense.

Segundo Marcelo Dias, a operação policial realizada na região resultou em um número de mortos muito superior ao divulgado oficialmente. Enquanto o governo estadual fala em pouco mais de 60 vítimas, ele afirma que familiares e moradores contabilizam cerca de 130 corpos. “Quero saudar os familiares que subiram nas matas e recolheram até agora 65 corpos, que pode ser mais, elevando para cerca de 130 os assassinados, os chacinados pelo governador genocida”, declarou.

O advogado lembrou que nasceu há 65 anos no Hospital Getúlio Vargas, o mesmo para onde os corpos das vítimas foram levados. Ele recordou também outras ações violentas do passado e afirmou que as favelas cariocas vivem sob uma política permanente de terror. “A política do Cláudio Castro não é de defesa da população. É uma política de extermínio dos favelados. É um genocídio do estado contra essa população”, afirmou.

Durante a entrevista, Marcelo Dias denunciou a ausência de atendimento médico e ambulâncias do SAMU no local da operação, o que, segundo ele, confirma o descaso do governo com a vida dos moradores. “É um absurdo essa médica sozinha sair do seu trabalho, em solidariedade, e não ter uma equipe da Secretaria de Saúde do Estado nesse local. Nem para socorrer os policiais que foram baleados”, disse. Para ele, a ação não obedeceu a protocolos básicos de segurança e revelou o despreparo do governo estadual.

Dias também criticou a recusa do governador em aceitar a colaboração da União e relacionou essa postura à resistência de Cláudio Castro à chamada PEC da Segurança, proposta que busca integrar a atuação da Polícia Federal com as forças estaduais. “Esses governadores foram contra a PEC da segurança porque não querem a Polícia Federal no estado do Rio de Janeiro, em São Paulo, em Goiás. Essa polícia vai desvendar a relação do setor de segurança com as facções e principalmente com as milícias que dominam imensos territórios”, declarou.

O advogado defende que o governo federal, sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, adote uma postura firme diante das chacinas. Ele cobrou uma resposta imediata do Ministério da Justiça e afirmou que a ausência de medidas poderá estimular a repetição de operações semelhantes em outros estados. “Se o governo federal não travar essa política da morte, ela vai se espalhar pelos estados governados pela extrema direita e vai ficar muito pior”, alertou.

Marcelo Dias ressaltou que cerca de um quarto da população carioca vive em favelas e denunciou a ausência de políticas públicas nesses territórios. “Nesses territórios não tem posto médico, não tem escolas estaduais, não tem lazer. Só a polícia, só o terror da polícia”, afirmou. Ele também criticou o uso continuado da chamada “guerra às drogas”, política iniciada nos Estados Unidos na década de 1970, que, em sua visão, apenas legitima a repressão.

Para o advogado, as operações letais fortalecem as próprias facções que o Estado afirma combater, pois multiplicam o medo e o ressentimento nas comunidades. “Cada chacina que acontece, as facções saem mais fortalecidas”, declarou. Ele defende uma política de segurança baseada em inteligência, investigação e prisão dentro da legalidade, em vez de execuções sumárias.

O advogado anunciou ainda a articulação de uma campanha pelo afastamento do governador. “O movimento negro, os movimentos de favelas e os movimentos sociais vão se levantar. Vai ter resistência”, afirmou, destacando que entidades como o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Movimento Negro Unificado (MNU) já convocam manifestações em frente ao Palácio Guanabara.

Com longa trajetória na militância pelos direitos humanos e pela igualdade racial, Marcelo Dias conclui que o governo do Rio abandonou os princípios básicos da legalidade e da proteção da vida. “O governo federal precisa mostrar à população o boicote que ele está sofrendo por parte desse governador genocida, filhote do Wilson Witzel”, disse. Para ele, o enfrentamento dessa política é essencial para impedir que o país naturalize a violência de Estado nas periferias. Assista: 

 

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