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Cappelli ressalta presença de profissionais com treinamento militar no 8/1

Ex-interventor do DF também critica voto de Fux no julgamento de Jair Bolsonaro e relata bastidores da tentativa de golpe em Brasília

Cappelli ressalta presença de profissionais com treinamento militar no 8/1 (Foto: ABR)

247 - Em participação no programa Bom Dia 247, Ricardo Cappelli, ex-interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, fez duras críticas ao voto do ministro Luiz Fux, que absolveu Jair Bolsonaro em julgamento no Supremo Tribunal Federal. Para Cappelli, o voto vencido foi “contraditória e confusa”, marcada por referências à Constituição e a juristas norte-americanos, sem citar fundamentos brasileiros. Bolsonaro foi condenado na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos de cadeia, por liderar a trama golpista. 

“O voto parecia mais de um ministro da Suprema Corte dos Estados Unidos do que do STF. Citaram a Constituição dos EUA, professores estrangeiros, e nada da nossa Constituição. Foi um voto esquisito, paradoxal”, declarou.

Ele destacou ainda a incoerência em condenar apenas Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, enquanto absolveu outros envolvidos nos ataques. “O Mauro Cid era ajudante de ordens, não quem dava ordens. Condená-lo sozinho é, para ser educado, bastante exótico”, ironizou.

Cappelli também revisitou os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, quando ocupou o cargo de interventor após decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou que os ataques às sedes dos Três Poderes não se resumiram a uma manifestação desorganizada, mas configuraram um movimento orquestrado contra a democracia.

“Havia manifestantes comuns, mas entre eles estavam homens treinados, com técnicas militares, equipamentos, rádios e preparo de combate. Não foi uma manifestação qualquer, foi a culminância de uma tentativa de golpe”, relatou.

De acordo com Cappelli, a própria Polícia Militar do DF relatou que enfrentou “homens profissionais”, o que explica por que um contingente acostumado a controlar atos de até 50 mil pessoas não conseguiu conter os cerca de 5 mil envolvidos naquele dia.

A entrevista também serviu como palco para o lançamento de seu livro “O 8 de janeiro que o Brasil não viu”, em que registra os bastidores da intervenção federal que se estendeu por 23 dias. Cappelli detalha operações, como a prisão de mais de mil manifestantes, e momentos decisivos em que a democracia brasileira esteve sob risco.

“Foi a maior operação de polícia judiciária da história do Brasil. Registrei tudo porque era meu dever com a memória nacional. O país precisa compreender o que ocorreu para nunca mais permitir que se repita”, afirmou.

Ele lembrou ainda a ausência do então governador do DF, Ibaneis Rocha, e relatou o clima de tensão vivido na noite de 8 de janeiro, quando blindados do Exército chegaram a apontar contra forças policiais que tentavam desmontar acampamentos golpistas. “Ali vimos o risco real de ruptura democrática”, disse.

Para Cappelli, o papel do presidente Lula foi fundamental para conter a crise. “A decisão de decretar a intervenção federal garantiu a retomada do controle. Foi um momento decisivo para a história brasileira”, concluiu. Assista:

 

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