Breno Altman: Governo escolheu cautela e abriu espaço para avanço da extrema-direita
Jornalista avalia que o Planalto poderia ter afastado Cláudio Castro com base no artigo 34 da Constituição
247 - O jornalista Breno Altman afirmou que o governo federal cometeu um erro político ao adotar a cautela no Rio de Janeiro, após o massacre na Vila Cruzeiro, que deixou mais de 120 mortos. Para ele, a postura “cautelosa” do Palácio do Planalto fortalece o discurso da extrema-direita e deixa o campo progressista sem protagonismo diante da crise de segurança pública no estado.
“O terreno está favorecendo a extrema-direita, porque o governo optou pela cautela em vez da assertividade”, disse Altman. “Quando o Estado se omite diante de massacres, quem aparece como voz de autoridade são os que pregam mais violência.”
“O governo poderia ter usado o artigo 34 para intervir no Rio e afastar o governador, em vez de acionar a GLO”, declarou o jornalista. “A Constituição permite essa medida em casos de grave violação dos direitos humanos ou desrespeito à ordem pública — e é exatamente o que está acontecendo.”
Segundo ele, o governador Cláudio Castro (PL), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, é responsável por uma política de segurança baseada na letalidade policial e na conivência com milícias. Ao manter Castro no cargo e apenas apoiar a operação com tropas federais, o governo federal “teria preservado o núcleo do problema”.
Para Altman, a medida tomada por Lula é “política e simbólica, mas ineficaz”, pois não altera a estrutura de poder local nem enfrenta a raiz da violência no estado.
O jornalista destacou que o episódio expõe uma crise de autoridade civil sobre as forças de segurança: “O Rio de Janeiro vive um colapso institucional. As polícias não respondem mais ao poder democrático, e o governo federal preferiu não enfrentar esse dilema.”
Altman alertou que a hesitação do Planalto pode ter efeitos políticos duradouros. “Não é apenas um erro tático. É um erro estratégico. A falta de assertividade reforça o poder de um governador reacionário e amplia o espaço da extrema-direita para se apresentar como solução de força”.
O jornalista encerrou dizendo que, diante de uma tragédia humanitária como a do Rio, “neutralidade é cumplicidade”. “O governo precisava agir de forma firme, dentro da Constituição, para proteger vidas e reafirmar o poder civil. Escolheu o caminho da cautela, e isso tem custo político”, concluiu.


