“A polícia no Brasil é o novo esquadrão da morte do Estado burguês”, diz Constantine
André Constantine critica projeto que recompensa policiais por mortes e alerta: medida institucionaliza o extermínio nas favelas
247 - O militante e líder do Movimento Carlos Marighella, André Constantine, fez duras críticas à chamada “gratificação faroeste”, durante entrevista ao programa Um Tom de Resistência, da TV 247. O projeto de lei discutido pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro previa o pagamento de bônus a policiais civis que “neutralizarem” suspeitos durante operações. Segundo Constantine, trata-se de uma política de Estado que legitima o assassinato de pobres e negros.
De acordo com ele, “o Estado burguês quer instituir dentro do seu braço armado um novo esquadrão da morte”, comparando a Polícia Civil ao papel já exercido pela Polícia Militar. “Nós já temos um esquadrão da morte dentro do braço armado do Estado, que é a Polícia Militar. Agora, querem criar outro através da Polícia Civil”, afirmou. O militante alertou que, caso o projeto seja sancionado, o resultado será uma “matança generalizada” nas favelas e periferias.
“A polícia é o braço armado do capital”
Para André Constantine, o problema da violência policial no Brasil é estrutural e histórico. Ele recordou que, desde o período colonial, a força armada do Estado serve para manter o controle das classes dominantes. “As polícias, todas elas — civil, militar e federal — são polícias de classe. Elas existem para manter a ordem do capital e o status quo vigente”, declarou.
O ativista defende que não há possibilidade de transformar essas instituições em forças “cidadãs” sem mudar o sistema de poder que as sustenta. “A esquerda que acredita em polícia cidadã se engana. A polícia só vai mudar quando estiver sob controle da classe trabalhadora”, disse.
“O sangue preto dá voto”
Durante o programa, Constantine também associou o avanço dessas políticas à estratégia eleitoral da extrema direita. Segundo ele, o discurso da segurança pública é explorado como ferramenta de poder. “O sangue que escorre nos becos e vielas das favelas dá voto. A direita vence no Rio desde Marcello Alencar baseada nessa política onde a morte é o vetor da segurança pública”, afirmou.
Para o militante, o governador Cláudio Castro utiliza o tema para consolidar apoio político. “São bilhões de reais investidos para equipar essa máquina de matar a gente que é a Polícia Militar e a Polícia Civil, porque ele sabe que isso garante a eleição dele”, destacou.
“Não são vítimas da sociedade, são vítimas do capitalismo”
Ao ser questionado sobre o envolvimento de jovens pobres com o crime, André Constantine rejeitou o termo “vítimas da sociedade” e responsabilizou o sistema econômico. “São vítimas do capitalismo. Essa juventude que ingressa nas facções é uma mão de obra barata dentro da engrenagem da indústria armamentista e do tráfico, que movimenta o imperialismo mundial”, declarou.
Ele criticou a forma como o Estado lida com essa juventude: “O Estado burguês não quer disputar essa juventude com políticas públicas, ele quer exterminar. Enquanto isso, investe bilhões na repressão e nada em educação, cultura e geração de renda”.
“A polícia não pode matar ninguém”
Constantine também denunciou o aumento de operações policiais após a aprovação do projeto de gratificação. “Desde que o PL foi aprovado, as ações da Polícia Civil se intensificaram e o número de ‘neutralizados’ aumentou. Só nas últimas semanas, quase 20 pessoas foram mortas nas favelas do Rio”, relatou.
Ele repudiou a naturalização da violência estatal: “A polícia não pode matar ninguém. Não importa se é varejista ou ladrão. A função do Estado é proteger vidas, não exterminá-las”.
Convocação à esquerda e à sociedade civil
Em tom de mobilização, André Constantine convocou os movimentos sociais e artistas a se unirem contra a medida. “Quero convocar a esquerda carioca, a classe artística, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque. Essa luta é prioritária. É hora de ocupar as ruas para impedir que o governador sancione esse projeto fascista e nefasto”, declarou.
Para ele, a resistência popular é a única via capaz de barrar o avanço do que chamou de “teocracia miliciana fascista”. “Eles querem consolidar no Brasil uma teocracia miliciana. A gente precisa reagir agora, antes que a barbárie se torne lei”, concluiu. Assista:


