Richard Wolff expõe como o México desafia narrativa dos EUA com crescimento econômico e independência estratégica
Economista destaca avanços na indústria, na soberania energética, na educação e no comércio global que a mídia americana evita mostrar
247 - O economista Richard Wolff destacou, em análise publicada em seu canal no YouTube, que uma transformação silenciosa, porém profunda, está em curso no México — e que a grande mídia dos Estados Unidos não tem interesse em mostrar.
O país, historicamente retratado como dependente e frágil diante de seu vizinho do norte, está consolidando avanços econômicos e estratégicos que desafiam décadas de narrativa dominante.
Segundo Wolff, enquanto comentaristas americanos alertam sobre inflação, desindustrialização e perda de empregos na classe média, o México aumenta sua produção manufatureira, reorganiza acordos comerciais e se afasta gradualmente da dependência do dólar. “O país deixou de se enxergar como satélite dos EUA e passou a agir como potência regional em ascensão”, afirmou.
Entre as mudanças mais significativas está a reindustrialização. O México superou a China como principal exportador para os EUA em setores-chave, como peças automotivas, eletrônicos e eletrodomésticos. Mais do que hospedar fábricas estrangeiras, desenvolve indústria própria, exportando produtos de alto valor agregado como veículos completos, painéis solares, dispositivos médicos e semicondutores — bases para a formação de uma classe média sólida.
A transição também envolve soberania energética. Após décadas de privatizações estimuladas por instituições como o FMI e o Banco Mundial, o governo retomou o controle de petróleo, gás e eletricidade. Empresas estatais voltaram a liderar investimentos, inclusive em fontes renováveis, garantindo preços internos estáveis e reduzindo a dependência de importações dos EUA. “Sem soberania energética, não há independência real”, resumiu Wolff.
No campo social, o México expandiu pensões universais, aumentou o financiamento de bolsas estudantis, fortaleceu a saúde pública e criou programas de capacitação profissional. Essas políticas, financiadas por impostos reestruturados e receitas recuperadas do setor energético e do comércio, alimentam o mercado interno e reduzem a dependência de remessas externas.
O país também diversificou sua rede de parceiros comerciais. Além dos EUA, intensificou relações com Brasil, Argentina, Chile, economias do Sudeste Asiático e países do bloco dos BRICS. Essa estratégia amplia autonomia e posiciona o México como ponte entre o Norte e o Sul globais, evitando submissão a uma única potência.
Outro destaque é o investimento em educação e inovação. Regiões como Monterrey, Guadalajara e Querétaro vêm se consolidando como polos tecnológicos, com programas para manter talentos no país e fomentar pesquisa aplicada. O registro de patentes por cientistas mexicanos está em crescimento constante, sinalizando independência intelectual e tecnológica.
Para Wolff, o silêncio da imprensa americana sobre esses avanços não é coincidência, mas estratégia. “Reconhecer o sucesso mexicano colocaria em xeque o mito do modelo econômico dos EUA como única via de prosperidade”, afirmou. Segundo ele, a omissão evita que a população americana questione políticas domésticas e demande mudanças estruturais.
No cenário latino-americano e global, o exemplo do México tem potencial de inspirar outros países a repensarem o desenvolvimento baseado na dívida externa e na entrega de recursos estratégicos a investidores estrangeiros. “O que se tenta evitar é um efeito de contágio, em que nações percebam que é possível crescer rejeitando o consenso de Washington”, concluiu Wolff.