Economia brasileira perde ritmo no 2º trimestre e deve crescer abaixo do esperado
Agro recua após supersafra, indústria mostra sinais mistos e consumo das famílias desacelera em meio a juros altos
247 – Após um início de ano mais robusto, a economia brasileira entrou em uma fase de desaceleração mais intensa que a prevista. De acordo com levantamento do Valor Econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescido apenas 0,3% no segundo trimestre de 2025 em relação ao período imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. No primeiro trimestre, a expansão havia sido de 1,4%.
Na comparação com o mesmo período de 2024, a projeção é de alta de 2,2%, também em ritmo inferior ao observado no trimestre anterior, quando o avanço foi de 2,9%. As projeções de médio prazo indicam crescimento de 2,2% em 2025 e desaceleração para 1,8% em 2026. Em 2024, o Brasil havia registrado uma expansão de 3,4%.
Agro perde protagonismo e indústria avança com ressalvas
O agronegócio, que impulsionou fortemente o PIB no início do ano com a supersafra, agora mostra sinais de retração. A expectativa é de queda de 1,7% em relação ao primeiro trimestre, mesmo que ainda apresente alta expressiva de 7,9% quando comparado ao segundo trimestre de 2024.
A indústria, por sua vez, deve voltar ao campo positivo, com crescimento estimado em 0,5%. O destaque é a indústria extrativa mineral, beneficiada pelos recordes na produção de petróleo, gás natural e minérios. Em contrapartida, a indústria de transformação e a construção seguem pressionadas pelos juros elevados e pelo aumento dos estoques, o que limita a recuperação.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, adota uma visão mais pessimista: “Os dados disponíveis mostram um desempenho muito ruim da indústria de transformação”. Ele projeta estagnação do PIB, com queda de 0,5% na indústria no período.
Serviços e consumo das famílias sustentam parte do crescimento
Os serviços devem avançar 0,4%, ligeiramente acima dos 0,3% do trimestre anterior, impulsionados pelo transporte e pela armazenagem ligados ao escoamento da safra. Já setores como comércio e serviços às famílias devem mostrar enfraquecimento, especialmente nas áreas mais sensíveis ao crédito.
Do lado da demanda, o consumo das famílias deve crescer 0,4%, abaixo do 1% observado no início do ano, mas ainda com suporte da massa salarial e do mercado de trabalho em níveis históricos de formalização. “Poucos economistas diriam que, com a Selic a 15%, teríamos uma taxa de desemprego de 5,8% em junho”, afirmou Rafael Perez, economista da Suno Research. Para ele, o consumo ainda encontra terreno favorável, embora o endividamento elevado das famílias represente um freio importante.
Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida dos investimentos, deve registrar queda de 2,2%, revertendo uma sequência de seis trimestres de alta. A desaceleração da construção civil, a retração na produção de bens de capital e a ausência de importações de plataformas de petróleo pesaram sobre o indicador.
Perspectivas e riscos para o restante do ano
Economistas alertam que o segundo semestre tende a ser ainda mais desafiador. Daniel Lavarda, chefe de pesquisa econômica no Brasil do HSBC, avalia que o mercado já trabalha com a possibilidade de crescimento próximo de zero no restante de 2025. “Um cenário de quase recessão não pode ser descartado, especialmente diante das tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre exportações brasileiras”, afirmou.
Se confirmada a alta de apenas 0,3% no segundo trimestre, a chamada “herança estatística” deixaria um crescimento automático de 2,4% para 2025. No entanto, as projeções apontam para um resultado inferior, de 2,2%, evidenciando que a fraqueza da atividade econômica deve se prolongar nos próximos meses, em um ambiente de juros altos, consumo limitado e incertezas globais.