Cade aprova avanço de Tanure sobre Braskem, mas bancos e Petrobras ainda definem o futuro da petroquímica
Governo e Petrobras veem com bons olhos entrada de Tanure, mas operação esbarra em R$ 15 bi de dívidas da Novonor garantidas com ações da petroquímica
247 - O empresário Nelson Tanure obteve, nesta quarta-feira (16), sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para prosseguir com a proposta de aquisição da fatia da Novonor (antiga Odebrecht) na Braskem. Apesar da simpatia do governo federal e da Petrobras, o desfecho da negociação ainda depende do aval dos bancos credores da Novonor, que detêm ações da petroquímica como garantia por uma dívida de R$ 15 bilhões.
A proposta formal de Tanure foi comunicada ao mercado em 26 de maio e possui três exigências principais: aprovação do Cade, respeito ao acordo de acionistas da Braskem e acerto com os credores da Novonor. Segundo apuração da Folha de S. Paulo, tanto o governo quanto a Petrobras avaliam positivamente a operação, principalmente por ela manter a empresa sob controle nacional, após duas tentativas fracassadas de venda a grupos estrangeiros — a estatal árabe Adnoc e a holandesa LyondellBasell.
A Petrobras já expressou interesse em ampliar sua influência na gestão da Braskem, mas sem a intenção de assumir o controle total. Fontes consultadas indicam que essa meta seria mais viável com Tanure do que com uma concorrente do setor petroquímico. “O que a gente não pode querer é que essa questão venha a destruir o valor da sexta maior empresa petroquímica do mundo”, afirmou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
Modelo de gestão de Tanure desperta dúvidas
Apesar do apoio político, a figura de Tanure levanta preocupações. Conhecido por adotar estratégias agressivas em empresas com dificuldades financeiras, o empresário poderia divergir do plano da Petrobras de expansão da cadeia produtiva nacional. A Braskem enfrenta um cenário complexo: opera com cerca de 30% de ociosidade em suas fábricas, sofre com a queda nos preços globais de insumos petroquímicos e vê seu mercado invadido por produtos importados dos Estados Unidos.
Além disso, carrega um passivo considerável devido ao afundamento do solo em Maceió, consequência de antigas operações de extração de sal-gema, o que traz riscos financeiros e jurídicos ainda incalculáveis.
Petrobras quer mais poder, mas sem reestatizar
A estatal brasileira tem direito de preferência na compra de ações e indica atualmente quatro dos 11 membros do conselho de administração da Braskem, além do diretor de Investimentos e Portfólio. A Novonor, por sua vez, é responsável por indicar seis conselheiros, o presidente e o diretor financeiro da empresa.
A alternativa preferida da Petrobras é negociar um novo acordo de acionistas que lhe assegure mais influência. “Em relação à Braskem, temos de resolver uma questão societária, com certeza”, reforçou Chambriard. A ideia é evitar um cenário que leve à desvalorização da companhia, que é a sexta maior petroquímica do mundo e atua em dez países.
Bancos têm papel decisivo no destino da operação
Embora conte com apoio político, Tanure enfrentará obstáculos na mesa de negociação com os credores da Novonor: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES. Essas instituições detêm as ações da Braskem como garantia pela dívida bilionária da Novonor e devem aprovar qualquer movimentação de venda.
Tanure busca financiamento para refinanciar esse passivo, mas encontra resistência devido ao preço atual das ações e à proposta de alongamento de prazo. Para assumir o controle da Braskem, seria necessário convencer os bancos a abrir mão das garantias ou aceitar uma nova estrutura de pagamento. De acordo com fontes do setor, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, teria sido acionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para facilitar o diálogo.
A Novonor possui 38,3% do capital total da empresa e controla 50,1% das ações com direito a voto. A Petrobras detém 36,1% do capital total e 47% das ações com voto, enquanto os acionistas minoritários respondem por 25,5%.
(Com informações da Folha de S. Paulo)
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