Brasil precisa dobrar investimentos em infraestrutura para destravar crescimento, aponta estudo do SINICON e FIRJAN
Segundo a pesquisa, o país precisaria investir mais de 4% do PIB ao ano por pelo menos duas décadas para alcançar a média global
247 - O Brasil investiu apenas 2,22% do PIB em infraestrutura em 2024, percentual inferior à própria depreciação anual dos ativos (2,27%). De acordo com o Raio-X do Setor de Infraestrutura Brasileiro - 2025, elaborado pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (SINICON) em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), o país precisaria investir mais de 4% do PIB ao ano por pelo menos duas décadas para alcançar a média global de estoque de infraestrutura, que corresponde a 60% do PIB.
Atualmente, o Brasil possui apenas 35,5%, um dos níveis mais baixos entre economias emergentes. Apesar do cenário ainda desafiador, os últimos três anos foram de importante avanço na retomada dos investimentos, revertendo uma baixa histórica que havia enfraquecido a engenharia nacional.
O relatório será lançado no Rio Construção Summit 2025, maior encontro nacional do setor, realizado nos dias 24, 25 e 26 de setembro, no Rio de Janeiro.
O documento identifica entraves históricos que comprometem a competitividade e a qualidade de vida da população:
* Rodovias: 40% em estado regular e 13% em condição ruim ou péssima, o que gera prejuízos logísticos de R$ 8,8 bilhões por ano.
* Saneamento: 32 milhões de pessoas sem acesso à água potável e mais de 90 milhões sem coleta de esgoto adequada.
* Logística: ferrovias subutilizadas, portos com gargalos e malha metroferroviária insuficiente para atender grandes centros urbanos.
* Telecomunicações: expansão da fibra ótica e do 5G, mas persiste desigualdade de acesso em áreas rurais e periferias.
* Energia: matriz elétrica com 88,2% de fontes renováveis em 2024, uma das mais limpas do mundo, puxada pela expansão da solar e da eólica.
Emprego e produtividade
O setor de construção pesada mantém índices de formalização muito superiores à média nacional. Em 2024, 74,2% dos trabalhadores tinham carteira assinada, contra cerca de 47% no conjunto da economia.
O impacto econômico também é expressivo: cada R$ 1 milhão investido em infraestrutura adiciona R$ 1,44 milhão ao PIB e gera 34 empregos diretos e indiretos.
Competitividade internacional em queda
O levantamento mostra ainda que o Brasil perdeu espaço no mercado global de serviços de engenharia. Entre 2013 e 2022, houve redução de 60% no faturamento de construtoras brasileiras no exterior, resultando em mais de 4 milhões de empregos eliminados. O principal motivo foi a retração do financiamento à exportação de serviços, especialmente pelo BNDES.
O diretor-executivo do SINICON, Humberto Rangel, destaca a urgência de ampliar os investimentos:
“O Brasil não crescerá de forma sustentável se continuar investindo menos do que a própria depreciação dos ativos. Cada real aplicado em infraestrutura retorna em produtividade, emprego e inclusão social”, afirmou o dirigente.
“Estradas melhores, saneamento, energia limpa e telecomunicações de qualidade não são apenas obras: são políticas de transformação que impactam diretamente a vida das pessoas. O Raio-X deixa claro que governo e iniciativa privada precisam agir em conjunto para recuperar o tempo perdido e garantir um ambiente seguro e estável para novos investimentos.”