Brasil intensifica busca por parcerias com Reino Unido, China e Índia no setor de saúde
Visita de Alexandre Padilha busca novos mercados e atrair investimentos estratégicos para o Brasil na produção de medicamentos e equipamentos de saúde
247 - O governo brasileiro intensifica esforços para minimizar os impactos econômicos das medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos, com foco na diversificação de seus parceiros comerciais no setor de saúde. A partir desta quinta-feira, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lidera uma missão ao Reino Unido, China e Índia, com o objetivo de buscar novas parcerias e mercados para produtos e equipamentos da área. O deslocamento, que se estende até o fim da próxima semana, é uma resposta direta à sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos em agosto, afetando drasticamente o comércio bilateral.
Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro Padilha destacou que a viagem visa fortalecer as relações estratégicas com os governos e as indústrias desses três países, além de fomentar investimentos privados. "Nesta missão faremos complementos às parcerias estratégicas com os governos e os ministérios da Saúde desses três países em uma série de contratos e parcerias com o setor privado, na lógica de atração de investimentos para o Brasil", afirmou.
Padilha também mencionou áreas específicas de interesse, como a produção compartilhada de medicamentos, vacinas e novas técnicas de diagnóstico. "O Brasil está aproveitando essa situação do tarifaço para ampliar parcerias estratégicas para atração de investimentos de produção no mercado brasileiro", ressaltou.
A ofensiva diplomática ocorre em um contexto no qual a indústria nacional de dispositivos médicos já sente os efeitos negativos das tarifas elevadas impostas pelos Estados Unidos, que continuam sendo um dos principais fornecedores de produtos de saúde ao Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), as exportações para os Estados Unidos caíram 30,4% logo após a implementação das novas tarifas, atingindo o valor mais baixo registrado em anos: US$ 21,2 milhões. Setores de maior valor agregado, como odontologia e reabilitação, foram os mais impactados, com quedas de até 93% nas exportações.
Enquanto o mercado americano apresenta sinais de retração, países da Europa e da América Latina se mostram como alternativas promissoras para a indústria brasileira. As exportações para a Europa, por exemplo, cresceram 44,5%, com destaque para Espanha, França e Suíça. No continente americano, México e Bolívia também ampliaram suas compras. "A tarifa americana trouxe um impacto imediato e profundo sobre nossas vendas, especialmente nos segmentos de maior valor agregado. Isso evidencia o quanto o Brasil ainda depende de poucos mercados estratégicos", afirmou Larissa Gomes, gerente de Projetos e Marketing da Abimo.
O foco da missão também está na atração de investimentos produtivos que permitam ao Brasil reduzir sua dependência de fornecedores externos em áreas críticas, como medicamentos e equipamentos de alta complexidade. O governo busca, ainda, estabelecer joint ventures com países como a China e a Índia, visando transferir tecnologia e reduzir os custos para o Sistema Único de Saúde (SUS). "Queremos incentivar a produção local e a transferência de tecnologia para fortalecer nossa autonomia no setor", afirmou Padilha.
Embora os Estados Unidos ainda dominem segmentos importantes, como equipamentos de diagnóstico e medicamentos inovadores, a balança comercial de saúde do Brasil com os EUA tem se mostrado desfavorável. O país norte-americano continua sendo o terceiro maior fornecedor de produtos de saúde ao Brasil, mas sua participação nas importações brasileiras caiu de 28% para 12% desde 1997. A China, por sua vez, ocupa agora a liderança, respondendo por 19% dos insumos adquiridos. Essa mudança reflete, em parte, a crescente diversificação das fontes de fornecimento de saúde do Brasil.
Além disso, o futuro próximo pode trazer mudanças significativas. Até 2030, cerca de 1.500 patentes de medicamentos estarão expirando, o que poderá aumentar a produção nacional e reduzir custos com a importação de produtos farmacêuticos. A visita de Padilha também inclui uma série de reuniões com representantes de importantes associações farmacêuticas e executivos de grandes laboratórios internacionais.
Esse movimento diplomático ocorre em um momento tenso nas relações entre Brasil e Estados Unidos, especialmente após a aplicação de sanções contra autoridades brasileiras, incluindo o próprio ministro Padilha e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. As sanções de Washington se referem, entre outros fatores, ao programa Mais Médicos, criado durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que envolvia a contratação de médicos cubanos.


