Brasil chega a 1,65 milhão de trabalhadores em apps
Segundo o IBGE, 71% dos trabalhadores de apps estão na informalidade. Número de pessoas ocupadas nesse tipo de atividade cresceu 25,4% em dois anos
247 - O Brasil registrou 1,7 milhão de pessoas ocupadas em atividades ligadas a aplicativos e plataformas digitais no terceiro trimestre de 2024. Os dados são do módulo “Trabalho por meio de plataformas digitais” da PNAD Contínua, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre 2022 e 2024, o número de trabalhadores cresceu 25,4%, um salto de 335 mil pessoas em apenas dois anos. A pesquisa foi realizada em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Crescimento acelerado em dois anos
O levantamento mostra que a plataformização do trabalho avança em ritmo acelerado. Do total de ocupados, 58,3% atuam em aplicativos de transporte, 29,3% em entregas e 17,8% em serviços gerais e profissionais. A maior expansão ocorreu nesse último grupo, que cresceu 52,1% no período.
Transporte e entregas dominam o setor
O transporte particular de passageiros lidera, com 878 mil trabalhadores em 2024, alta de 29,2% em relação a 2022. Já os aplicativos de entrega reúnem 485 mil ocupados, entre entregadores e profissionais que utilizam as plataformas para captar clientes ou vender produtos.
Perfil dos trabalhadores de aplicativos
Homens jovens predominam no setor: 83,9% são do sexo masculino e quase metade tem entre 25 e 39 anos. A maioria possui ensino médio completo ou superior incompleto. Regionalmente, o Sudeste concentra 53,7% dos trabalhadores, enquanto o Nordeste apresenta a maior proporção de motoristas particulares de passageiros.
Jornadas extensas e renda desigual
Apesar de registrarem renda média de R$ 2.996 — 4,2% superior à dos não plataformizados —, os trabalhadores de aplicativos enfrentam jornadas mais longas, de 44,8 horas semanais, contra 39,3 horas dos demais. Isso reduz o rendimento por hora: R$ 15,4, frente a R$ 16,8 dos não plataformizados.
A informalidade é um traço marcante: 71,1% não têm registro, contra 43,8% dos trabalhadores tradicionais. Apenas 35,9% contribuem para a previdência, proporção bem abaixo dos 61,9% entre os demais.
Motoristas e motociclistas em destaque
Entre os motoristas de automóveis, 1,9 milhão estavam ocupados em 2024. Desse total, 824 mil trabalhavam com aplicativos, com renda média de R$ 2.766, superior à dos não plataformizados, mas à custa de uma jornada maior: 45,9 horas semanais.
No caso dos motociclistas, 1,1 milhão estavam empregados, sendo 33,5% em aplicativos. O rendimento médio dos plataformizados foi de R$ 2.119, acima dos não plataformizados (R$ 1.653), mas com maior carga horária e informalidade.
Controle das plataformas sobre os trabalhadores
A aparente autonomia dos trabalhadores de aplicativos esconde um cenário de forte dependência das plataformas. Segundo o IBGE, 91,2% dos motoristas afirmam que os valores pagos pelas corridas são definidos pelas empresas. Entre entregadores, 76,8% dizem que a forma de pagamento também é determinada pelos aplicativos.
O analista do IBGE Leonardo Quesada destaca que esse controle é decisivo. “Percebe-se que as empresas das plataformas digitais de trabalho com frequência detêm um importante controle sobre a organização, a alocação e a remuneração dos trabalhadores”, afirmou.


