Silvio Tendler morre aos 75 anos e deixa legado como um dos maiores documentaristas do Brasil
Cineasta conhecido como "o diretor dos sonhos interrompidos" retratou a história política do país em produções marcantes
247 - O cineasta Silvio Tendler morreu na manhã desta sexta-feira (5), aos 75 anos, vítima de uma infecção generalizada. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo, que também confirmou, junto à família, que o diretor enfrentava há uma década uma neuropatia diabética. Sua filha, Ana Rosa Tendler, confirmou o falecimento.
Reconhecido como um dos nomes mais importantes do cinema documental brasileiro, Tendler recebeu o apelido de “cineasta dos sonhos interrompidos” por retratar personagens e momentos cruciais da política nacional. Entre suas obras mais emblemáticas estão “Jango” (1980), sobre João Goulart, que levou 1 milhão de espectadores às salas de cinema e se consolidou como uma das maiores bilheteiras do gênero no Brasil, além de “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980) e “Tancredo, A Travessia” (2011), formando a chamada Trilogia Presidencial.
Sucesso popular e relevância histórica
Silvio Tendler também alcançou marcas inéditas com outros documentários. O filme “O Mundo Mágico dos Trapalhões” (1981), assistido por 1,3 milhão de pessoas, continua sendo o documentário de maior público na história do cinema brasileiro. Já “Os Anos JK” registrou 800 mil espectadores.
Sua obra mais ambiciosa foi “Utopia e Barbárie”, produção que levou cerca de 20 anos para ser finalizada. O longa percorre a segunda metade do século 20 a partir de imagens de arquivo e depoimentos de nomes como Augusto Boal, Eduardo Galeano e Susan Sontag, compondo um retrato crítico e abrangente da época.
Exílio, formação e carreira
Nascido no Rio de Janeiro em 1950, Tendler começou a se dedicar ao cinema no final dos anos 1960. Para escapar da perseguição durante a ditadura militar, buscou exílio no Chile e, depois, na França. Em Paris, estudou história e cinema, retornando ao Brasil em meados da década de 1970.
Foi professor da PUC-Rio e, em 1976, fundou a produtora Caliban, responsável por mais de 80 títulos, entre longas e curtas-metragens de caráter historiográfico. Em 1985, participou da criação da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano, iniciativa voltada ao fortalecimento da produção audiovisual na região.
Atuação política e reconhecimento
Nos anos 1990, Tendler passou também pela política institucional, ao ocupar o cargo de Secretário de Cultura e Esporte do Distrito Federal. Trabalhou ainda com a Unesco, articulando a indústria audiovisual no âmbito do Mercosul.
Ao longo de sua carreira, recebeu mais de 60 prêmios em festivais no Brasil e no exterior. Em 2006, foi agraciado com a Ordem de Rio Branco, entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em maio deste ano, foi novamente homenageado pelo governo federal, desta vez com a Ordem do Mérito Cultural.
Silvio Tendler deixa a esposa, Fabiana Versasi, e a filha, Ana Rosa Tendler.