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Quem matou Odete Roitman? Mistério e nostalgia marcam nova versão de Vale Tudo

Remake escrito por Manuela Dias revive o assassinato mais famoso da teledramaturgia brasileira, mas muda o perfil da vilã e divide opiniões do público

Débora Bloch como "Odete Roitman" em "Vale Tudo" (Foto: Reprodução/Globoplay)

247 – Morreu Odete Roitman. Na noite de segunda-feira (6), a icônica personagem, agora interpretada por Débora Bloch, foi assassinada com um tiro certeiro no quarto de hotel de luxo onde morava, com vista para a Praia de Copacabana. O crime, como na versão original de Vale Tudo (1988), ainda não tem autor conhecido e será revelado apenas no último capítulo. A análise é de Danilo Casaletti, repórter de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo.

O remake da novela, assinado por Manuela Dias, desperta inevitáveis comparações com a obra clássica escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Na versão original, a morte da vilã — magistralmente interpretada por Beatriz Segall — se tornou um fenômeno cultural. Odete foi assassinada por engano, com um tiro disparado por Leila, movida pelo ciúme e pela suspeita de traição do marido. A cena, dirigida por Dennis Carvalho, entrou para a história como uma das mais impactantes da televisão brasileira.

Uma nova Odete, menos cruel e mais humana

Na releitura de Manuela Dias, a vilã ganha contornos diferentes. Viúva, rica e poderosa, Odete exibe o mesmo elitismo e preconceito, mas com nuances mais humanas. “Odete Roitman é altamente viciante”, diz a personagem no capítulo em que morre — uma frase que resume sua força simbólica e o fascínio que exerce sobre o público.

A nova versão atualiza temas e situações. Em vez da “garçonnière” usada para encontros amorosos, como em 1988, Odete agora leva seus namorados para o hotel onde mora. Entre eles está César Ribeiro, vivido por Cauã Reymond, que também figura entre os principais suspeitos do crime. Casado com Odete, ele e o parceiro Olavinho têm interesse na fortuna da empresária — o que amplia as motivações para o assassinato.

Além de César, Marco Aurélio (Alexandre Nero), Maria de Fátima (Bella Campos), Celina (Malu Galli) e Heleninha (Paolla Oliveira) completam a lista de suspeitos. A autora, no entanto, surpreendeu o público ao transformar Odete em uma serial killer na reta final da novela — uma reviravolta que dividiu opiniões. A personagem tentou matar Marco Aurélio, assassinou Ana Clara e encomendou a morte de Maria de Fátima, atitudes impensáveis para a Odete original.

Comparações e críticas ao novo enredo

Na primeira versão, nenhum dos suspeitos tinha real intenção de matar Odete — todos estavam motivados por ambição e corrupção, os verdadeiros motores de Vale Tudo. Já no remake, o número de personagens com desejo explícito de vingança cresceu.

Para Casaletti, Manuela Dias “cedeu à tentação do mercado audiovisual atual”, em que o impacto e a violência se sobrepõem à sutileza moral e ao comentário social que marcaram o texto de Gilberto Braga. Ainda assim, a Odete de Débora Bloch conquistou o público, com frases espirituosas e um humor ácido que remetem à elegância e ao cinismo da vilã original.

Mistério e legado

No ar, permanece a pergunta que paralisou o Brasil em 1988 e agora ressurge em novos tempos: quem matou Odete Roitman? A diferença é que, desta vez, muitos se perguntam também se valeu a pena matá-la novamente.

A Odete de Beatriz Segall foi uma das maiores criações da teledramaturgia brasileira, símbolo da elite arrogante e da hipocrisia nacional. A de Manuela Dias, embora bem interpretada, pode não alcançar o mesmo brilho — e talvez o verdadeiro mistério seja entender por que insistimos em reviver o que já era perfeito.

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