O teatro como missão de vida: Herson Capri fala sobre arte, envelhecimento e resistência política
Ator comenta desafios da profissão após os 70 anos e defende engajamento político como expressão de coerência pessoal
247 – O ator Herson Capri foi o convidado do programa O Barato da Idade, conduzido pelos jornalistas Miguel Paiva e Regina Zappa, na TV 247. Ao longo de quase uma hora, Capri falou sobre carreira, envelhecimento, amor pelo teatro, projetos atuais e também abordou abertamente sua visão política e o papel do artista no Brasil contemporâneo.
Logo no início da entrevista, Herson Capri descreveu como a pandemia representou um momento difícil para os profissionais das artes cênicas, mas destacou que conseguiu manter a chama criativa acesa:
“Eu não parei durante a pandemia. Fizemos uma peça online, ‘Avela’, depois ao vivo, e foi um sucesso nos dois formatos”, afirmou.
Atualmente com 73 anos, Capri revelou estar vivendo um dos períodos mais prolíficos da sua carreira:
“Estou trabalhando mais do que nunca. Faço duas peças ao mesmo tempo, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro, e isso me preenche profundamente. Me sinto em um momento muito feliz”, disse.
Entre seus projetos atuais estão a peça Memórias do Vinho, escrita pela autora Jandira Martini e dirigida por Elias Andreato, em cartaz no Teatro Renaissance, e o espetáculo A Sabedoria dos Pais, com Natália do Vale e texto de Miguel Falabella, previsto para estrear em setembro no Rio.
O amor pelo teatro e o prazer do palco
Ao ser questionado sobre qual meio artístico lhe traz mais felicidade, Capri foi categórico:
“Me sinto bem em tudo, mas no teatro é onde me sinto mais completo. O palco permite um mergulho profundo no personagem, na história e no público. É insubstituível”.
Ele também revelou que sua vocação surgiu aos 15 anos, durante uma montagem escolar:
“Foi ali que entendi o que queria ser da vida. O teatro é mágico, é o lugar onde tudo é possível, onde se conta qualquer história”, relembrou emocionado.
Posicionamento político como dever moral
A conversa abordou também temas políticos e a responsabilidade social do artista. Herson foi enfático ao defender a importância do engajamento:
“Seria uma traição a mim mesmo se eu não dissesse minha opinião. Tenho formação de esquerda, meu pai era comunista de carteirinha. Se eu não falo da solidariedade, da empatia, eu me anulo”.
Ele rejeitou a cobrança comum em ambientes conservadores, que tentam associar posicionamento político à escolha de trabalhos em emissoras comerciais:
“O mundo é capitalista. E eu, como ator, trabalho onde há possibilidade de exercer minha profissão”, rebateu.
Críticas ao cenário político e social brasileiro
Capri não poupou críticas ao cenário político recente e atual, classificando o impeachment de Dilma Rousseff como um golpe e comentando com preocupação o fortalecimento de figuras autoritárias:
“O impeachment foi uma vergonha, um golpe. Hoje o mundo tem no Trump uma liderança perigosíssima. Sinto medo, sinto tristeza, e às vezes até entro em depressão com o que vejo acontecer”, confessou.
Ele também refletiu sobre o impacto da precarização do ensino público e a dificuldade de acesso a uma educação de qualidade:
“A escola pública já foi melhor que a particular. Hoje é o contrário, é um drama social. A desigualdade começa aí”, lamentou.
Legado familiar e projetos futuros
Pai de cinco filhos, Herson demonstrou grande orgulho ao falar sobre a trajetória profissional dos filhos, especialmente do cineasta Pedro Freire, diretor do premiado filme Malu:
“Chorei muito vendo o filme do Pedro. Ele retratou a mãe dele com tanta emoção, com tanta verdade, foi um soco no peito”, contou.
Ele revelou ainda um sonho pessoal:
“Quero muito fazer uma peça com meu filho Lucas, que é um excelente ator. Mas sem ser pai e filho no palco”, comentou, bem-humorado.
Um otimismo cauteloso para o futuro da dramaturgia
Por fim, Capri destacou o crescimento recente do teatro, principalmente após a pandemia:
“Vejo um movimento teatral muito forte, casas lotadas, espetáculos em alta. A TV Globo acabou com contratos longos, mas o teatro explodiu”, avaliou.
Apesar de confessar dificuldade para acompanhar tudo devido à rotina intensa, ele mostrou otimismo com a nova geração de autores e diretores:
“Tem muita gente talentosa escrevendo e dirigindo hoje. O teatro continua vivo e pulsante”, concluiu.
A entrevista com Herson Capri é uma demonstração vívida de como envelhecer não significa perder relevância ou paixão pela vida. Ao contrário, mostra um artista maduro, consciente de seu papel social, em plena forma e absolutamente apaixonado pela arte. Assista:
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