"A memória, quando bem guardada, não desaparece", escreve Ruy Castro sobre Tenorio Jr.
Jornalista e escritor exalta evento promovido pelo BNDES em homenagem ao pianista brasileiro
247 - O jornalista e escritor Ruy Castro publicou na Folha de S. Paulo uma emocionante homenagem ao pianista Tenorio Jr., cuja vida e obra têm sido reverenciadas até hoje, apesar de seu assassinato. O texto de Castro foi inspirado em um evento realizado no Teatro do BNDES, no último 1º de outubro, que não apenas celebrou o legado musical de Tenorio, mas também trouxe à tona revelações importantes sobre seu destino, encerrando um mistério que perdurava desde 1976.
Tenorio Jr. desapareceu na noite de 18 de março de 1976, em Buenos Aires, quando foi confundido com um ativista local, às vésperas de um golpe militar que tomaria o poder na Argentina. Durante muitos anos, sua história foi envolta em incerteza, até que, 49 anos depois, a Polícia Técnica da Argentina identificou suas impressões digitais como as de um homem que foi executado naquele mesmo dia. Essa descoberta trouxe um alívio para os familiares de Tenorio, que, mesmo não podendo trazê-lo de volta, finalmente souberam o que realmente aconteceu com ele.
O evento no Teatro do BNDES foi, como destaca Ruy Castro, uma noite para celebrar tanto a memória de Tenorio quanto a importância de sua música. O pianista foi um dos grandes nomes do samba-jazz brasileiro e, no evento, o trio formado por Rafael Vernet, Breno Aguilar e Tutty Moreno recriou os arranjos de "Embalo", seu único disco como líder, lançado em 1964. Esta obra, considerada uma das maiores do gênero, foi uma das principais homenagens ao músico durante a noite.
Além disso, o evento contou com apresentações de grandes nomes da música brasileira, como Joyce Moreno, Gilberto Gil e Caetano Veloso, que interpretaram clássicos de seus repertórios, mas também celebraram Tenorio Jr. de maneira pessoal e emocionante. A presença de Joyce foi particularmente tocante, pois, como relata Ruy Castro, ela havia trabalhado com Tenorio apenas duas semanas antes de sua morte, em Montevidéu.
A noite também teve um momento de grande emoção quando, sob a liderança de Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, o palco foi compartilhado por Lucas Guanini, o perito argentino que identificou as impressões digitais de Tenorio, além de representantes de movimentos pelos direitos humanos, como as Mães da Plaza de Mayo. As palavras de Sofia e Marina, netas de Tenorio, arrancaram lágrimas da plateia quando elas falaram sobre o avô que nunca conheceram, mas cuja memória foi mantida viva por suas famílias.
Ruy Castro, em seu texto, lembra com carinho da importância de Tenorio na música brasileira e de como sua memória foi preservada ao longo das décadas. "A memória, quando bem guardada, não desaparece", escreve o jornalista, destacando a resistência da família e dos amigos em manter viva a história de Tenorio Jr., mesmo diante da dor de sua perda prematura. A homenagem foi, assim, um tributo à música, à luta por justiça e ao legado de um dos maiores nomes do samba-jazz brasileiro.