Roberto Rodrigues destaca papel da agricultura tropical na busca por soluções climáticas e pela paz mundial

247 - A agricultura é parte fundamental das soluções para enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, promover o bem-estar e a pacificação global. A avaliação é do Enviado Especial da COP30 com foco em agricultura, Roberto Rodrigues. O também ex-ministro da Agricultura (2003–2006) defendeu o protagonismo do agronegócio tropical, que alia tecnologia, pesquisa e manejo sustentável como ferramentas essenciais no combate à crise climática.

Rodrigues ressaltou que, embora a COP30, que ocorrerá em Belém (PA), seja uma conferência voltada ao clima e não especificamente à agricultura, o evento representa uma oportunidade histórica para o Brasil. “É uma honra enorme poder representar o setor em um evento dessa dimensão. Apesar de não ser uma COP da agricultura, trata-se de uma COP no Brasil, e o mundo inteiro estará atento ao que será apresentado. Temos uma chance única de mostrar o agro brasileiro tropical, sustentável e replicável em outros países de clima similar”, afirmou. Segundo ele, “minha missão será justamente essa: mostrar ao mundo a eficiência e a capacidade de replicação do agro brasileiro nos trópicos”.

O ex-ministro anunciou ainda que, em outubro, será lançada uma publicação sobre os últimos 50 anos do agronegócio nacional, reunindo dados históricos e indicadores de produtividade. “O documento mostra que a tecnologia e a ciência fizeram com que o Brasil desse um salto extraordinário de produção tropical sustentável. E entram todas as atividades produtivas, grãos, proteínas, a agroenergia também”, explicou Rodrigues.

De acordo com a Embrapa, a agricultura tropical se diferencia das zonas temperadas pela exposição constante ao sol e ao calor, que permitem múltiplos ciclos produtivos e alta produtividade. No entanto, os solos tropicais exigem técnicas específicas, já que são mais ácidos e pobres em nutrientes. Para Rodrigues, o êxito brasileiro se deve à ciência nacional, que desenvolveu sementes, práticas de manejo e correções de solo adequadas às condições tropicais. “A minha ambição é que essa COP no Brasil permita mostrar ao mundo que a agricultura tropical é sustentável de fato”, defendeu.

O Enviado Especial também defendeu a cooperação internacional e a democratização da tecnologia desenvolvida pelo país. “É fundamental haver pelo menos dois pontos de comportamento global. O primeiro é o financiamento, já que nem todos os países têm condições próprias para desenvolver uma tecnologia tropical. O segundo é a flexibilização das regras de comércio, para que o mundo tropical possa participar de forma justa do processo de produção”, destacou. Ele reforçou que a agricultura tropical tem papel estratégico diante do que chama de “quatro cavaleiros modernos do apocalipse”: segurança alimentar, transição energética, desigualdade social e mudanças do clima. “O mundo tropical é quem vai resolver essas questões e, com isso, garantir a paz universal”, afirmou.

O ex-ministro também destacou a importância da bioenergia na transição para uma economia de baixo carbono. “O etanol de cana-de-açúcar emite apenas 9% do CO₂ que a gasolina emite. O biodiesel de soja emite 19% do que o diesel de petróleo. E o Brasil tem hoje 10 milhões de hectares de florestas plantadas, que sequestram carbono”, informou. A transição energética brasileira ganhou novo impulso em 2024, com a sanção da Lei do Combustível do Futuro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A norma prevê incentivos à mobilidade sustentável, cria programas para biocombustíveis e captura de carbono, e deve atrair R$ 260 bilhões em investimentos. O governo estima que as medidas evitarão a emissão de 705 milhões de toneladas de CO₂ até 2037 — reforçando o compromisso nacional com o desenvolvimento econômico aliado à preservação ambiental.