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Povos da Amazônia cozinharão para chefes de Estado na COP30 após disputa por espaço

Coletivo Iacitatá garante presença na blue zone e levará culinária indígena e camponesa à mesa de líderes mundiais em Belém

Tainá Marajoara é cozinheira, ativista e fundou o Ponto de Cultura Alimentar Iacitatá (Foto: Reprodução/Mariana Castro/BdF)

247 - Povos indígenas, comunidades tradicionais e camponesas da Amazônia estarão responsáveis por preparar refeições para chefes de Estado na COP30, que será realizada em Belém (PA). A conquista, articulada pelo Ponto de Cultura Alimentar Iacitatá, veio após meses de pressão contra regras consideradas discriminatórias. Em entrevista ao Brasil de Fato, a fundadora do coletivo, Tainá Marajoara, destacou: “Entendemos isso como uma vitória de todos os povos do mundo, porque é uma conferência global que, pela primeira vez, terá uma cozinha feita por indígenas, culturas populares e camponesas”.

A princípio, o Iacitatá teria acesso apenas à green zone, espaço reservado a movimentos populares. O grupo, porém, reivindicou a blue zone, local em que circulam presidentes e delegações oficiais. “São essas pessoas que vão sentir o cheiro, o sabor e a revolução que a gente faz desde o chão da Amazônia. Esse espaço na COP tinha nos sido negado, mas fomos lá e conquistamos”, disse Marajoara.

O processo de seleção foi marcado por controvérsias. O edital de licitação chegou a proibir alimentos típicos como açaí, tucupi e maniçoba, além de restringir a participação a restaurantes formais. A resistência de indígenas, quilombolas e representantes da culinária popular levou à revisão de regras, permitindo que cooperativas, associações e coletivos tradicionais pudessem disputar vagas no fornecimento de alimentação do evento.

O cardápio amazônico será robusto: duas toneladas e meia de pescado artesanal, outras duas de mariscos e cerca de cinco toneladas de grãos, arroz, feijão, café, sal e açúcar fornecidos pelo MST. Para Tainá, cozinhar na COP vai além do serviço: “Nós somos uma cozinha sem genocídio, sem veneno, sem transgênico, sem agronegócio e sem conflito agrário. Esse é o nosso recado”.

O desafio agora é financeiro. O coletivo calcula que precisa de aproximadamente R$ 850 mil para montar a cozinha e adquirir alimentos, dos quais R$ 600 mil seriam destinados à agricultura familiar. “Trabalhamos com justiça social e equidade. Nossa logística é mais cara que a da indústria de alimentos, mas distribui renda e valoriza quem produz”, afirmou a ativista.

Para além da gastronomia, a participação do Iacitatá simboliza resistência cultural e política. “Nós somos Amazônia. Se não fossem povos indígenas, comunidades tradicionais e camponeses, a floresta não estaria mais de pé”, enfatizou Marajoara. A presença na COP30, portanto, marca não apenas a valorização da culinária amazônica, mas também um posicionamento contra o colonialismo e em defesa da vida nos territórios.

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