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Países latino-americanos reveem metas climáticas e cobram mais apoio financeiro internacional

Especialistas defendem inclusão de florestas e oceanos nas NDCs e alertam que América Latina é esquecida na cooperação financeira internacional

Floresta Amazônica no Pará (Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará)
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247 - Enquanto a América Latina se prepara para revisar suas metas climáticas no contexto do Acordo de Paris, especialistas alertam para a necessidade de incorporar de forma mais contundente os recursos naturais da região — como florestas e oceanos — nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Segundo reportagem publicada pelo site oficial da COP30, essa abordagem seria crucial tanto para a mitigação quanto para a adaptação às mudanças do clima, mas esbarra na falta de financiamento internacional adequado.

"Na América Latina e Caribe, a maioria dos países, sem importar o tamanho, cobertura ou extensão geográfica, compartilha uma alta riqueza em biodiversidade e em recursos naturais", afirmou Sebastian Carranza, coordenador do subprograma de Mudanças do Clima para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Para ele, os ecossistemas da região — terrestres e marinhos — são soluções potenciais para aumentar a resiliência diante da crise climática, especialmente em termos de segurança alimentar, hídrica e energética.

Carranza destacou ainda que os países latino-americanos demonstram forte compromisso com o Acordo de Paris, mas ainda deixam de lado o potencial da natureza em seus planos climáticos. "Há uma oportunidade de incorporar as contribuições da natureza às NDCs, tanto na mitigação quanto na adaptação", afirmou. Até o momento, apenas Brasil, Uruguai, Cuba e Santa Lúcia apresentaram à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) suas revisões das metas climáticas.

Florestas como solução e urgência da ação

A relevância da natureza como ferramenta no combate à mudança do clima também foi destacada pelo Global Stocktake (GST), instrumento que monitora a implementação das NDCs globalmente. O relatório sublinha a importância de conservar, proteger e restaurar ecossistemas para atingir os objetivos do Acordo de Paris, com destaque para a necessidade de deter e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030.

Essa visão é compartilhada por André Corrêa do Lago, presidente da COP30. Em carta aos negociadores da Conferência, ele afirmou: "O primeiro Balanço Global do Acordo de Paris (GST) é nosso guia para a Missão 1.5 [...]. Isso inclui os apelos globais para deter e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030". Em outro trecho, ele reforçou: "As florestas podem nos fazer ganhar tempo na ação climática durante uma janela de oportunidade que se está fechando rapidamente".

Corrêa do Lago também destacou os múltiplos benefícios da restauração florestal: "Se revertermos o desmatamento e recuperarmos o que foi perdido, poderemos ativar remoções maciças de gases de efeito estufa da atmosfera e, ao mesmo tempo, trazer ecossistemas de volta à vida [...]. Ecossistemas mais saudáveis também podem oferecer oportunidades para resiliência e bioeconomia".

Falta de financiamento trava potencial latino-americano

Apesar da riqueza ambiental da América Latina, a região enfrenta dificuldades significativas para acessar recursos financeiros internacionais que viabilizem ações climáticas. "A América Latina é uma região que está sendo esquecida na cooperação financeira", alertou Andrés Mogro, gerente de Programa do Clima da Fundação Avina. "A cooperação está muito mais focada no continente [africano], nos países menos desenvolvidos, nos países insulares, e a América Latina fica para trás."

Durante a Semana do Clima do Panamá, em entrevista ao site da COP30, Mogro explicou que os países latino-americanos são forçados a buscar fontes alternativas de financiamento. "A América Latina fica na posição de ter que mobilizar os recursos necessários para mitigação e adaptação de qualquer fonte que não seja necessariamente a cooperação bilateral", disse. Para ele, o setor privado, os investidores e os recursos estatais se tornam, na prática, os principais financiadores da ação climática na região.

Mogro defende que o processo internacional reconheça o papel estratégico da América Latina na preservação de ecossistemas e na oferta de serviços ambientais. "O processo deve garantir que os atores mais capazes de colaborar e apoiar aqueles com maiores necessidades ou maiores serviços ecossistêmicos, como a América Latina, também possam ser beneficiários desses recursos financeiros", afirmou.

Caminho até Belém

Uma das principais entregas esperadas da COP30, que será realizada em Belém do Pará em 2025, será a elaboração do "Road Map Baku-Belém". O documento deve reunir estratégias para reformar o sistema financeiro multilateral, ampliar o acesso a financiamento climático, fortalecer capacidades nacionais e destravar investimentos em larga escala.

Para os especialistas, o sucesso desse roteiro dependerá do reconhecimento da natureza como aliada e da América Latina como peça-chave na solução climática global. Sem financiamento justo e acessível, alertam, o imenso potencial da região poderá continuar sendo desperdiçado.

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