Lula defende fundo global para florestas: "queremos sair da era da doação"
Em Belém, presidente afirma que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre marca um novo paradigma no financiamento climático
247 - “Estamos querendo sair da era da doação. A doação é muito importante, mas é sempre muito aquém daquilo que as pessoas precisam.” A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita nesta terça-feira (4) em Belém (PA), resume a proposta que o Brasil levará à COP30: transformar a preservação ambiental em uma oportunidade real de investimento e desenvolvimento. As informações foram divulgadas pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom).
Durante encontro com jornalistas estrangeiros, Lula defendeu o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), que será oficialmente apresentado pelo Brasil na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, marcada para novembro de 2025 em Belém. O presidente explicou que o novo mecanismo busca romper com a lógica de doações insuficientes e promessas descumpridas por parte das nações mais ricas.
“Eu participei da COP15, em 2009, em Copenhague. Naquela COP, o mundo rico prometeu 100 bilhões de dólares por ano para ajudar os países que têm floresta em pé. Até hoje não saiu esse dinheiro. Agora, a dívida já é de 1 trilhão e 300 bilhões de dólares. Ora, se eles não deram 100 bilhões, vão dar 1 trilhão?”, questionou Lula.
Segundo o presidente, o TFFF inaugura um modelo de “ganha-ganha” no qual todos os atores — investidores, governos e comunidades — se beneficiam. O fundo deve captar recursos no mercado financeiro internacional com juros baixos e risco reduzido. Parte da rentabilidade será destinada aos países que mantêm suas florestas preservadas, enquanto os investidores receberão retorno sobre o capital aplicado.
“É um fundo que vai trazer rentabilidade ao investidor, e uma parte dessa rentabilidade vai financiar os países que mantêm sua floresta em pé. É um fundo de ganha-ganha. Nós esperamos que, quando a gente terminar a apresentação do TFFF, a gente tenha muitos países participando”, afirmou Lula.
Incentivo à conservação e à bioeconomia
De acordo com o conceito do fundo, mais de 70 países com florestas tropicais poderão ser beneficiados. O monitoramento será feito por satélite, e cada país poderá receber até 4 dólares por hectare conservado. “Parece modesto, mas estamos falando de um bilhão e cem milhões de hectares de florestas tropicais distribuídos em 73 países em desenvolvimento”, disse Lula.
O presidente reforçou que o TFFF vai além da proteção ambiental: tem potencial para fomentar a bioeconomia e melhorar as condições de vida das comunidades que vivem nas florestas.
“É um fundo para você pagar para as pessoas que estão lá cuidando. Você tem que levar energia para esse povo, levar escola, posto de saúde, transporte. A bioeconomia pode ser uma nova indústria mundial que surge a partir da COP30”, afirmou.
Liderança brasileira e cooperação internacional
O Brasil vem liderando a criação do TFFF desde a COP28, realizada em Dubai, em 2023. Além do Brasil, participam da iniciativa Colômbia, Gana, República Democrática do Congo, Indonésia e Malásia, países que detêm grandes extensões de florestas tropicais. Entre os potenciais países investidores estão Alemanha, França, Noruega, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos.
Em setembro, durante evento em Nova York, Lula anunciou que o Brasil fará um aporte inicial de 1 bilhão de dólares no fundo, reforçando o compromisso nacional com o novo modelo de financiamento climático.
“A COP da verdade”
Lula também destacou o papel simbólico da COP30, que ocorrerá em Belém entre 10 e 21 de novembro de 2025, como marco da ação concreta diante da crise climática. “Essa COP precisa ser a COP da verdade. Tudo começou com a Rio 92. De lá para cá, já tivemos várias COPs, muitas decisões tomadas e muitas decisões não executadas”, disse.
O presidente afirmou que o encontro será uma oportunidade para reafirmar a confiança dos líderes globais na ciência e para exigir a implementação de políticas efetivas.
“Nós vamos começar essa COP com a apresentação de alguns cientistas. Uma das coisas que está colocada para nós, chefes de Estado, é dizer se acreditamos ou não na ciência. Eu sou daqueles que acredita. Nós não queremos que a COP continue sendo uma feira de produtos ideológicos. Queremos que as coisas que nós decidimos possam ser implementadas.”
A Amazônia no centro das decisões
Com a COP30 sediada em Belém, o Brasil pretende colocar a Amazônia no coração do debate global sobre o clima e reforçar o papel estratégico das florestas tropicais para o equilíbrio do planeta.
Para Lula, o novo fundo simboliza esse compromisso: “O TFFF mostra que é possível unir economia, justiça social e preservação ambiental. A floresta em pé precisa ser valorizada, e quem cuida dela tem que ser recompensado”, concluiu o presidente.