Haddad aposta em fundo global de florestas como legado da COP30 e desafio ao mundo rico
Ministro da Fazenda detalha proposta brasileira que busca remunerar países que preservam florestas tropicais e provocar mudança no financiamento climático
247 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF) poderá se tornar o grande legado da COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em 2025. A proposta, segundo ele, representa uma virada de chave na forma como o mundo financia a preservação ambiental e desafia as nações ricas a assumirem um papel mais efetivo na proteção do planeta. As informações são do Ministério da Fazenda e foram dadas durante o programa “Bom dia, Ministro”, nesta terça-feira (7).
“Eu acredito sinceramente que essa iniciativa pode ser um grande legado desta COP. Agora, depende, como tudo que diz respeito ao meio ambiente, da boa vontade do mundo rico. O papel da política é criar situações de constrangimento, em que a pessoa não possa fazer outra coisa a não ser fazer o certo”, declarou Haddad.
Um novo modelo de financiamento ambiental
O TFFF será a principal proposta que o Brasil levará à conferência e tem como objetivo criar um mecanismo financeiro inédito para remunerar países que mantêm suas florestas tropicais preservadas. “A principal proposta do Brasil para a COP30 é um mecanismo de financiamento de serviços ambientais. O que vem a ser isso? Criar um fundo de investimento que possa captar, pagando juros baixos, emprestar com determinado spread e usar esse diferencial de juros para remunerar os países”, explicou o ministro.
A meta inicial é levantar US$ 25 bilhões junto a governos, com potencial de ultrapassar US$ 100 bilhões com a participação do setor privado. Diferentemente de modelos baseados em doações, o fundo será estruturado em investimentos sustentáveis, que gerarão retorno financeiro e ambiental.
Benefício direto ao Sul Global
Para Haddad, o TFFF representa uma mudança de paradigma na economia verde global, especialmente para os países em desenvolvimento. “Se nós conseguimos constranger os países ricos a aportarem recursos que não são doações, são empréstimos para um fundo de investimento, nós vamos realizar um grande feito que vai beneficiar o Sul Global”, afirmou.
O ministro reforçou que a iniciativa brasileira une sustentabilidade e equidade, reconhecendo o papel fundamental das florestas tropicais na regulação climática mundial. “Vai permitir manter esses pulmões, garantindo um meio ambiente mais saudável para todo o planeta”, completou.
Ousadia e liderança do Brasil
Haddad destacou que o Brasil demonstrou dupla ousadia ao propor o fundo: primeiro, ao decidir sediar a COP no coração da Amazônia, e depois, ao anunciar o aporte de US$ 1 bilhão do próprio governo brasileiro, antes mesmo da entrada de países desenvolvidos.
“Foi uma grande ousadia colocar as pessoas do mundo inteiro para conhecer a realidade amazônica. A segunda ousadia foi no discurso da ONU ao dizer que o Brasil se compromete com R$ 1 bilhão de dólares para o fundo. Ou seja, países ricos não põem a mão no bolso e o Brasil diz: ‘eu vou entrar com um bilhão de dólares’”, afirmou.
O Brasil lidera os esforços pela criação do TFFF desde a COP28, realizada em Dubai, em 2023. Para aderir ao fundo, os países precisarão adotar sistemas de gestão financeira transparentes e destinar 20% dos recursos a povos indígenas e comunidades tradicionais.
Produtividade e crescimento econômico
Durante a entrevista, Haddad também tratou de temas econômicos internos, ressaltando a importância da agenda microeconômica para o aumento da produtividade. Como exemplo, citou o Crédito do Trabalhador, programa de crédito consignado para empregados do setor privado.
“Em seis meses, a gente colocou mais R$ 40 bilhões na operação com juros mais baixos e cadentes. A cada semana, o juro cai um pouquinho porque a concorrência bancária ficou mais efetiva”, explicou o ministro.
Ele acrescentou que uma série de projetos de lei prontos para votação foi encaminhada ao Congresso, envolvendo temas como infraestrutura bancária, Lei de Falências e Inteligência Artificial. “Tem uma dúzia de projetos ali que estão maduros para aprovar e que têm impacto micro e no ambiente de negócio. Muito importante para o Brasil continuar atraindo a atenção do mundo, dos investidores, gerando emprego e tudo mais”, disse.
Diálogo e responsabilidade fiscal
Haddad reafirmou o compromisso do governo em negociar com o Congresso Nacional para avançar nas medidas fiscais e elogiou a retomada da cooperação entre os poderes. “Numa democracia, você vai sentar na mesa, você vai negociar. Eu não me lembro de nenhuma proposta econômica do governo que saiu igual ao que entrou”, afirmou.
Ele ressaltou que o atual governo e o Legislativo têm trabalhado em sintonia, o que viabilizou a aprovação de reformas estruturantes. “O governo Lula, em parceria com o Congresso Nacional, fez a maior Reforma Tributária da nossa história, tanto do consumo e agora da renda. Isso tudo precisa ser valorizado”, disse o ministro.
Radiografia do transporte público
Por fim, Haddad comentou o estudo em andamento sobre o transporte público com tarifa zero, solicitado pelo presidente Lula. “Nós vamos perseverar nesse estudo para apresentar uma radiografia do setor e verificarmos quais são as possibilidades de melhorar isso, que tem um apelo social muito forte”, afirmou.
Com a criação do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, o ministro acredita que o Brasil consolidará seu protagonismo climático, oferecendo ao mundo um modelo em que sustentabilidade, investimento e justiça social caminham lado a lado — e desafiando as grandes economias a fazerem o mesmo.