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Brasil lidera esforço global para ampliar metas climáticas até 2030

Com a entrega das novas NDCs, países têm até a COP30 para elevar ambição climática, fortalecer a transição energética e frear o desmatamento

85% da população defende uso de energia limpa (Foto: Divulgação)

247 - Promover uma transição energética justa, ordenada e equitativa, triplicar a capacidade de energia renovável, dobrar a eficiência energética, restaurar ecossistemas e reduzir as emissões de metano são metas centrais do Balanço Global do Acordo de Paris (GST). O relatório avaliou a implementação das primeiras Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e definiu prioridades que devem orientar a ação climática até 2030. As informações são da presidência da COP30.

Com a entrega das novas NDCs prevista para 2025, abre-se uma janela decisiva de oportunidade para que os países revisem e ampliem seus compromissos, tornando suas metas mais ambiciosas e ancoradas em ações concretas.

Em sua quarta carta à comunidade internacional, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, destacou que a Agenda de Ação deve ser um instrumento coletivo de engajamento. “A Agenda de Ação deve criar a motivação coletiva para a plena implementação do GST. Deve mobilizar todas as partes interessadas para trabalhar ao lado dos governos em prol de causas globais, como interromper e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030”, afirmou.

O diplomata acrescentou que a mesma agenda deve “apoiar a aceleração da transição energética em todo o mundo, incluindo a triplicação da capacidade global de energia renovável, a duplicação da taxa média anual global de melhorias na eficiência energética até 2030 e a transição para o afastamento dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de maneira justa, ordenada e equitativa”.

Para Corrêa do Lago, a Agenda de Ação e as NDCs representam o instrumento central da ação climática global. “Usando o GST como referência, poderemos transformar a ação climática, passando da cacofonia a uma sinfonia bem orquestrada — na qual as negociações multilaterais dão o tom, e as NDCs e a Agenda de Ação fornecem os instrumentos”, escreveu.

A nova rodada de compromissos climáticos

As NDCs detalham as metas e políticas que cada país pretende adotar para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme o Acordo de Paris, assinado em 2015. A cada cinco anos, os 195 signatários devem apresentar suas novas contribuições à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).

Até o momento, 101 países prometeram entregar suas novas NDCs até a COP30, que será realizada em Belém, em novembro de 2025. Desses, 62 já depositaram seus compromissos, segundo dados atualizados da UNFCCC, disponíveis no site oficial do organismo.

Durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a importância desse processo. “As NDCs são o mapa do caminho que guiará cada país nessa mudança”, afirmou, convocando todas as nações a apresentarem seus planos até a COP30.

A CEO da COP30, Ana Toni, ressaltou o papel do Brasil na mobilização internacional. “Pela primeira vez, uma presidência da COP realizou duas Cúpulas sobre NDCs – uma no início de 2025 e outra na Climate Week em Nova York –, sinalizando o esforço global por compromissos mais ambiciosos e bem estruturados”, destacou durante a Pre-COP.

O Brasil, que também co-preside a NDC Partnership, tem colaborado com mais de 70 países para aprimorar suas metas climáticas e garantir planos de implementação robustos, com ênfase em setores como energia, agricultura e financiamento.

Transição energética no centro das NDCs

O setor energético é o principal responsável pelas emissões globais de gases de efeito estufa, e por isso está no centro das estratégias climáticas. “Três quartos das emissões globais vêm do setor energético. Então, a transição energética é a resposta do mundo para conter o aquecimento global”, explicou Karen Silverwood-Cope, diretora de Clima, Finanças e Economia da WRI Brasil.

Nas NDCs apresentadas até o momento, as soluções estão fortemente concentradas na expansão das energias renováveis. Silverwood-Cope observou que essa tendência deve se intensificar: “O crescimento das energias renováveis, como eólica e solar, está em expansão e deve continuar. O mesmo ocorre com os biocombustíveis. Além disso, haverá maior demanda por fontes bioenergéticas, como aproveitamento de energia a partir de resíduos sólidos ou biometano”.

Segundo o relatório Perspectivas Mundiais de Energia 2024, da Agência Internacional de Energia (IEA), houve um avanço expressivo desde a COP28, quando foi definida a meta global de triplicar a capacidade de renováveis até 2030. Antes, apenas 14 países tinham metas explícitas sobre o tema; hoje, cerca de 70 — responsáveis por 80% da capacidade mundial — já alcançam ou superam seus objetivos.

Brasil como modelo de energia limpa

O Brasil é referência mundial em energia renovável, com mais de 90% de sua matriz elétrica composta por fontes limpas, como hidrelétricas, solar e eólica. “Começamos com as hidrelétricas porque não tínhamos carvão. Não que pensássemos em mudanças do clima nos anos 1960 ou 1970. Depois, partimos para a energia solar e para a eólica”, recordou Corrêa do Lago durante a Semana do Clima de Nova York.

O embaixador Mauricio Lyrio destacou ainda o protagonismo brasileiro nos biocombustíveis. “Em muitos países, não existe a opção de abastecer com etanol nos postos, nem carros com tecnologia ‘flex’, que permite o uso de combustíveis renováveis”, afirmou em entrevista ao site da COP30.

Financiamento: o elo mais crítico

Apesar dos avanços, o financiamento climático segue como o maior desafio. Durante a reunião da ONU sobre NDCs, a União Europeia reafirmou que continuará sendo o principal financiador global, com até 300 bilhões de euros destinados à transição limpa. Já a China apresentou sua primeira meta absoluta de redução de emissões.

Líderes do Sul Global, como Xi Jinping (China) e William Ruto (Quênia), defenderam que a transição energética deve reduzir desigualdades e não aprofundar as distâncias entre países ricos e pobres.

A presidência da COP30 reforça que o desafio é coletivo: nenhum país isoladamente conseguirá fechar a lacuna entre promessas e ações. A Agenda de Ação pretende mobilizar governos, empresas, cidades e sociedade civil para acelerar a implementação do que já foi acordado — transformando compromissos em resultados concretos até 2030.