Toyota pode suspender produção no Brasil até o fim do ano
Sindicato aponta que tempestade destruiu fábrica de motores em Porto Feliz e paralisação afeta Sorocaba e Indaiatuba
SÃO PAULO (Reuters) - A Toyota pode ficar sem produzir veículos no Brasil até pelo menos o final deste ano por causa da destruição da fábrica de motores da companhia no interior de São Paulo nesta semana, disse o presidente do sindicato de metalúrgicos da região.
A fábrica de motores da Toyota em Porto Feliz (SP) é responsável pelo abastecimento das fábricas de veículos da marca em Sorocaba (SP) e Indaiatuba (SP) e foi arrasada no início da semana por uma tempestade com ventos de 90 quilômetros por hora.
"Se fizermos a comparação com um carro, deu perda total na fábrica", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, Leandro Soares, em entrevista à Reuters nesta quarta-feira, após sair de uma reunião com a montadora sobre medidas de preservação dos empregos depois do desastre.
"É bem provável que a Toyota não volte a produzir (no Brasil) este ano devido à falta de motores em Porto Feliz", acrescentou. "Provavelmente as atividades em Sorocaba e Indaiatuba devem ficar prejudicadas este ano devido ao tamanho do prejuízo."
"Vai ter que tirar o esqueleto que ficou e colocar um esqueleto novo", disse Soares, referindo-se a colunas e vigas de sustentação da fábrica danificadas pela tempestade. Segundo o dirigente sindical, "praticamente toda" a fábrica de Porto Feliz foi comprometida.
A montadora informou mais cedo que ainda está trabalhando na avaliação dos danos causados pelo fenômeno climático que teve força para tirar carros do chão e arrancar o telhado da fábrica que foi aberta em 2014 e é considerada pela marca como uma das mais modernas do grupo no mundo. A unidade foi aberta após investimento de R$580 milhões e era a primeira fábrica de motores da Toyota na América Latina, com uma capacidade de mais de 100 mil propulsores por ano.
Questionada nesta tarde sobre os comentários do presidente do sindicato, a Toyota afirmou "que não tem informações".
EMPREGOS GARANTIDOS
Segundo Soares, os trabalhadores da Toyota em Sorocaba vão entrar em férias coletivas nesta semana e em Porto Feliz os funcionários usarão banco de horas até o final desta semana, para depois ingressarem em regime de férias coletivas.
"Os empregos estão garantidos", afirmou o presidente do sindicato na entrevista. Segundo ele, a entidade ainda vai negociar com a montadora o estabelecimento de programas de suspensão de contratos de trabalho (layoff) para evitar demissões. Os trabalhadores acertaram em setembro a negociação salarial deste ano e Soares disse que a Toyota vai manter todos os termos acertados com os trabalhadores antes da tragédia.
A fábrica de Sorocaba emprega cerca de 3.800 trabalhadores e Porto Feliz, aproximadamente 800, disse Soares.
Segundo a montadora, houve "danos severos à estrutura da fábrica" em Porto Feliz e esses danos "afetaram a fábrica em grande extensão". A Toyota tinha marcado o lançamento do utilitário Yaris Cross, principal lançamento da marca neste ano, para 16 de outubro, mas o evento foi adiado por prazo indefinido após a destruição da fábrica.
Cerca de 30 trabalhadores de Porto Feliz ficaram feridos sem gravidade como consequência do fenômeno climático, sendo que um deles quebrou um braço, disse Soares.
A Toyota trabalha em sistema de produção "just in time", em que a montagem de carros é sincronizada com a produção de componentes. A companhia afirmou mais cedo que as produções das fábricas de Sorocaba e Porto Feliz foram interrompidas desde terça-feira, "sem previsão de retomada".
"Um relatório de danos está sendo preparado para entender a extensão dos impactos... Nesse momento, não temos como prever nenhuma data", afirmou a empresa mais cedo ao ser questionada sobre uma expectativa de retorno da produção.
Além da produção prevista do Yaris Cross, a Toyota monta em Sorocaba o Corolla em versões sedã, híbrida e utilitário, e o hatch Yaris voltado para exportação. Em Indaiatuba, também produz o Corolla sedã.
(Por Alberto Alerigi Jr.)