Sabesp planeja usar água tratada de esgoto na Grande SP
Companhia prevê utilizar água regenerada de estações para reforçar mananciais e garantir segurança hídrica nos próximos anos
247 - A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) planeja ampliar a segurança hídrica da região metropolitana de São Paulo a partir do aproveitamento de água de esgoto tratada. O projeto prevê que, em até dois anos, a empresa começará a injetar essa água regenerada em mananciais da Grande São Paulo.
Segundo reportagem do Valor Econômico, a iniciativa foi detalhada nesta quinta-feira (2) por executivos da companhia. A proposta é direcionar a água tratada nas estações de Suzano e Barueri para os rios Taiaçupeba e Cotia, reforçando a disponibilidade hídrica de áreas críticas da metrópole.
Água regenerada para reforçar mananciais
De acordo com Roberval Tavares, diretor-executivo de engenharia e inovação da Sabesp, trata-se de um processo de “recarga de mananciais” que deve ganhar corpo nos próximos anos. Já a diretora-executiva de relações institucionais e sustentabilidade, Samanta Souza, explicou que a água devolvida não terá padrão potável, mas será compatível com a qualidade dos rios receptores.
“Essa água não sai na qualidade potável, mas em qualidade em que o corpo receptor pode receber. É uma água regenerada para entrar no ciclo da água, ela volta na mesma qualidade do rio”, afirmou.
Mudança de paradigma no abastecimento
Para a diretora-executiva de operação e manutenção, Débora Longo, a medida representa uma transformação na forma de pensar o uso da água.
“A devolução de água de esgoto tratada é uma quebra de tabu, mas na prática é algo já feito em diversas cidades do mundo e até no próprio rio Tietê”, destacou. Segundo ela, a região metropolitana carece de novos mananciais e precisa diversificar fontes de abastecimento. “É um recurso muito valioso que se pode utilizar. É uma quebra de perspectiva, mas hoje já acontece, é muito comum”, completou.
Investimentos e obras em andamento
A Sabesp planeja investir cerca de R$ 1,9 bilhão em obras voltadas à ampliação da oferta de água em sua área de concessão. Entre os projetos em andamento estão a interligação dos sistemas Rio Grande-Alto Tietê, que deve adicionar 4 mil litros por segundo ao abastecimento, e a revitalização do sistema Baixo Cotia, com potencial de ampliar a vazão em mais mil litros por segundo.
Embora a companhia não descarte o uso futuro do rio Tietê como fonte de captação, esse cenário não está nos planos imediatos.
Escassez hídrica e medidas emergenciais
Atualmente, o sistema integrado de mananciais da Grande São Paulo opera com apenas 31% de sua capacidade. Apesar disso, Débora Longo descartou a possibilidade de racionamento no curto prazo. Segundo ela, a companhia tem recorrido a alternativas menos drásticas, como a redução da pressão da água durante o período noturno, adotada desde 27 de agosto. Essa medida já resultou em economia de 13,31 bilhões de litros de água — volume equivalente a um mês de abastecimento de cidades como São Bernardo do Campo, Diadema e parte de Santo André.
“Hoje temos sistemas mais robustos, mais preparados. O racionamento é uma ação operacional, mas não é o que a Sabesp gostaria, porque causa impacto muito grande”, afirmou Longo.