Milhares protestam no Complexo da Penha após chacina com 121 mortos no Rio
Após a mais letal ação policial do país, moradores e movimentos sociais exigem justiça e o fim das incursões em favelas
RIO DE JANEIRO, 31 de outubro (Reuters) - As autoridades do Rio de Janeiro disseram na sexta-feira que identificaram a maioria dos mortos na operação policial mais letal da história do Brasil, enquanto protestos eram convocados para denunciar o elevado número de vítimas.
A operação contra a facção Comando Vermelho, que controla o tráfico de drogas em diversas favelas – bairros pobres e densamente povoados que se estendem pelo terreno acidentado da cidade – deixou 121 mortos na terça-feira, incluindo quatro policiais.
Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do Rio, disse a repórteres que, até a manhã de sexta-feira, 99 corpos haviam sido identificados. Destes, 42 tinham mandados de prisão em aberto e 78 possuíam antecedentes criminais, afirmou.
Autoridades estaduais descreveram a operação como um sucesso, com o governador Claudio Castro afirmando que as "únicas vítimas reais" foram os policiais mortos, alegando que todos os outros mortos eram criminosos.
O elevado número de mortes gerou críticas de funcionários das Nações Unidas e especialistas em segurança. "Esses atos podem configurar homicídios ilegais e devem ser investigados de forma imediata, independente e completa", afirmaram especialistas da ONU na sexta-feira.
Alguns moradores locais disseram ter encontrado cadáveres com membros amarrados e sinais de tortura, o que provocou protestos e reações políticas negativas.
Movimentos sociais, incluindo os principais sindicatos, grupos de direitos humanos e partidos de esquerda, convocaram uma manifestação na tarde de sexta-feira perto do complexo de favelas da Penha, onde ocorreu a operação policial.
Os manifestantes exigem o fim das "incursões militares" nas favelas e a responsabilização das vítimas, segundo um comunicado conjunto. Eles também pedem a destituição do governador Castro.
Apesar das crescentes críticas, as autoridades de segurança locais continuaram a defender a operação. "Agimos da forma mais transparente possível. Foi uma ação legítima do Estado após um ano de investigações", disse Curi. "Não temos nada a esconder."
Reportagem de Rodrigo Viga Gaier e Fabio Teixeira no Rio de Janeiro; reportagem adicional de Emma Farge em Genebra; texto de Gabriel Araujo; edição de Lucinda Elliott e Richard Chang.


