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Nikolas e Bolsonaro gravaram vídeos de apoio a engenheiro preso em operação contra mineração ilegal

A PF segue investigando as ligações entre os políticos e o grupo suspeito de fraudar autorizações de mineração em Minas Gerais

Ambos posam ao lado de Felipe Lombardi (Foto: Reprodução)

247 - O geógrafo e lobista político Gilberto Horta de Carvalho, apontado pela Polícia Federal como “articulador interinstitucional da organização criminosa” que fraudava autorizações de mineração em Minas Gerais, recebeu apoio público de Jair Bolsonaro (PL) e do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) em sua tentativa de assumir a presidência do Crea-MG (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) em 2023. 

As informações são do jornal O Globo, que teve acesso ao inquérito da Operação Rejeito.Em novembro do ano passado, Carvalho apareceu em vídeos ao lado de Nikolas Ferreira e de Bolsonaro pedindo votos para sua chapa. No material, Nikolas afirmou que “a gente sabe que durante muito tempo a esquerda se aparelhou nesses conselhos e a gente precisa desaparelhar isso para, no final das contas, servir a quem é de direita”. Carvalho, por sua vez, disse que sua candidatura serviria para “limpar o sistema de engenheiros da esquerda”. Bolsonaro também pediu votos: “Ninguém no mundo todo tem o potencial que nós temos em recursos minerais. Vote em conservadores e pessoas de direita que vão revolucionar de verdade esse setor tão importante para todos nós”.

Carvalho não venceu a eleição, mas manteve forte presença em círculos políticos bolsonaristas. Em suas redes sociais, exibe fotos com figuras da direita, como Eduardo Bolsonaro, os senadores Magno Malta e Cleitinho, além de Braga Netto, condenado pelo STF por participação na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Ele também trabalhou como voluntário na campanha de Bruno Engler (PL-MG) à Prefeitura de Belo Horizonte em 2024.A PF afirma que Carvalho teve “papel estratégico na manipulação de decisões administrativas e legislativas em favor dos interesses do grupo”. Em mensagens interceptadas, ele aparece articulando a suspensão do projeto de lei que previa o tombamento da Serra do Curral, área de interesse para exploração mineral. Em uma troca de mensagens, João Alberto Lages, ex-deputado estadual e apontado como líder da organização, pediu que Carvalho interferisse na tramitação do projeto. Pouco depois, Carvalho informou que o texto havia sido “baixado em diligência”, o que paralisou a votação.

O inquérito também revela que Carvalho atuou para atingir a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), conhecida por sua defesa ambiental. Em outubro de 2024, Lages enviou a Carvalho um dossiê com supostas irregularidades eleitorais de Salabert e pediu “jornalismo investigativo em cima dela”. Carvalho respondeu: “Pode ficar tranquilo que eu não vou falar para ninguém, óbvio, que é você. E vou entregar essas informações para as pessoas capacitadas, que você sabe muito bem quem é, tá bom?”.

Dois dias depois, Carvalho encaminhou os dados ao então diretor de Polícia Administrativa da Polícia Federal, Rodrigo Teixeira, seu amigo pessoal, dizendo que Salabert teria recebido R$ 8 milhões e gasto R$ 5 milhões “somente com a empresa desse ex-assessor”. Pouco depois, Nikolas Ferreira apresentou uma denúncia formal à PF com base nessas mesmas informações. A deputada negou qualquer irregularidade e disse que todos os gastos seguiram a legislação eleitoral.Procurado, Bruno Engler afirmou que Carvalho atuou apenas como voluntário em sua campanha e que não interferiu na tramitação do projeto sobre a Serra do Curral. Nikolas Ferreira não se manifestou até a publicação desta reportagem. A PF segue investigando as ligações entre os políticos e o grupo suspeito de fraudar autorizações de mineração em Minas Gerais.

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