Lula ampliou seu poder em relação ao centrão, diz Celso Rocha de Barros
Presidente inicia demissões de indicados infiéis e reduz capacidade de chantagem de partidos que se alinham a Tarcísio de Freitas
247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou seu poder de barganha em relação ao centrão e iniciou a demissão de indicados de partidos que ocupavam cargos no governo, mas atuavam politicamente contra o Planalto. A análise é do colunista Celso Rocha de Barros, publicada na Folha de S.Paulo.
Segundo Rocha de Barros, esses postos foram entregues a partidos de direita que hoje votam contra o governo no Congresso e devem apoiar Tarcísio de Freitas na eleição presidencial de 2026. O colunista compara o cenário a uma situação inversa: como se, no governo de Jair Bolsonaro, ministros do PCdoB trabalhassem abertamente por Lula em 2022, enquanto o partido derrotasse propostas de Paulo Guedes no Congresso. “Não tinha como durar”, escreveu.
Disputa por recursos e influência eleitoral
Celso Rocha de Barros destaca que o conflito com o centrão é, sobretudo, uma disputa por quem terá acesso aos recursos do governo nas eleições de 2026. Em 2022, o Congresso dominado pela direita estourou o teto de gastos e permitiu que Jair Bolsonaro distribuísse bilhões em benefícios sociais e obras. Agora, a estratégia é a oposta: limitar a capacidade de Lula de gastar e tentar forçá-lo a cortar programas sociais populares.
A derrubada da Medida Provisória 1303, que equilibraria as contas públicas com baixo custo social, foi articulada por deputados conservadores ligados a Tarcísio de Freitas.
Cargos, chantagens e mudança no equilíbrio político
O colunista explica que muitos partidos do centrão utilizavam cargos no governo federal para distribuir verbas, obras e favores a prefeitos aliados, fortalecendo suas bases eleitorais enquanto se preparavam para apoiar a oposição. Lula manteve esses aliados apesar da baixa fidelidade porque precisava de seus votos para garantir o funcionamento mínimo do governo no Congresso.
A virada ocorreu quando dois fatores se combinaram: a derrota da MP 1303, que mostrou que nem o apoio mínimo estava sendo garantido, e a recuperação de Lula nas pesquisas eleitorais. Com melhor desempenho popular, ele passou a negociar cargos com validade de até cinco anos — caso seja reeleito — e não apenas mandatos curtos e incertos.
Dessa forma, a chantagem “Lula, faça o que eu quiser ou apoiarei Tarcísio” perdeu força. Segundo Rocha de Barros, o presidente passou a responder, na prática: “vá lá — e boa sorte vivendo sem cargos por cinco anos”. Para o centrão, afirma o colunista, esse é o pior dos cenários.


