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‘Esquerda erra ao fugir do tema segurança pública’, diz Edinho Silva após chacina policial mais letal do RJ

O presidente do PT defendeu Lula e também cobrou apoio do governador Cláudio Castro

Rio de Janeiro (RJ) - 29/10/2025 - Moradores protestam contra execuçoes policiais na comunidade da Vila da Penha (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

247 - O presidente do Partido dos Trabalhadores, Edinho Silva, afirmou que os partidos de esquerda precisam dar mais atenção ao tema da segurança pública. Na avaliação feita pelo dirigente, o partido tornará a pauta uma “formulação prioritária no seu programa”. Em entrevista publicada nesta quarta-feira (29) no jornal O Globo, Edinho cobrou o apoio do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.

“Os partidos progressistas de centro-esquerda têm dificuldade e erram ao não enfrentar o debate da segurança pública. A segurança pública é um direito do trabalhador. O governo do presidente Lula tem feito o que nunca foi feito, que é enfrentar o crime organizado com inteligência, asfixiando a estrutura financeira do crime”, afirmou. 

“O PT tornará a segurança pública uma formulação prioritária no seu programa. Vamos fazer em dezembro um grande seminário sobre segurança pública. Queremos trazer os nossos governadores ou os secretários de segurança pública e ouvir o que está sendo feito nas nossas principais prefeituras, ouvir quem estuda o tema para ter uma proposta para dialogar com a sociedade”, acrescentou.

O presidente do PT aproveitou para cobrar o governo do Rio. “É importante o governador (do Rio, Cláudio Castro) também se posicionar, porque ele não pede celeridade na aprovação da PEC da Segurança”.

Outros membros do PT como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PR), o líder do partido na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), e o ex-ministro José Dirceu também se manifestaram sobre a operação policial no Rio. 

Números

Algumas estimativas apontaram mais de 130 pessoas morreram, mas a contagem oficial foi reduzida. O governo do estado do Rio informou que a operação policial deixou 121 mortos na capital. 

Agentes foram às ruas cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de prisão, sendo 30 expedidos pelo estado do Pará, parceiro na operação. Foram apreendidas toneladas de drogas e 118 armas, sendo 91 fuzis.

Um levantamento divulgado no ano passado pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), em parceria com o Instituto Fogo Cruzado, mostrou que o Comando Vermelho foi a única facção criminosa a ampliar seu domínio territorial entre 2022 e 2023 na Região Metropolitana do Rio.

Com um crescimento de 8,4%, o Comando Vermelho ultrapassou as milícias, passando a controlar 51,9% das áreas sob influência de grupos criminosos na região. A facção reconquistou 242 quilômetros quadrados (km²) que haviam sido perdidos para as milícias em 2021. Naquele período, as milícias controlavam 46,5% dos territórios dominados por organizações criminosas, enquanto o Comando Vermelho detinha 42,9%.

Histórico e movimentação econômica do CV

Formado nos anos 1970 no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho é uma das principais facções criminosas do país, ao lado do Primeiro Comando da Capital (PCC), surgido em 1993, em São Paulo. O grupo atua em mais de 20 estados brasileiros. 

O estudo Rastreamento de Produtos e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil estimou que, em 2022, facções como o Comando Vermelho e o PCC movimentaram cerca de R$ 146,8 bilhões por meio do comércio de combustíveis, ouro, cigarros e bebidas. No mesmo ano, o tráfico de cocaína gerou aproximadamente R$ 15 bilhões. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo. Tanto o Comando Vermelho quanto o PCC possuem presença consolidada em mais de 20 estados brasileiros.

O CV teve origem com o nome “Falange Vermelha”, criada por William da Silva Lima, conhecido como “Professor”. A proposta inicial era reunir presos em uma entidade que combatesse a tortura e os maus-tratos nos presídios.

Entre 1981 e 1986, o Comando Vermelho ampliou sua rede de comércio de drogas nas favelas do Rio. Um dos fatores para essa expansão foi a decisão do governo estadual, em 1983, de suspender temporariamente as ações policiais nas comunidades. Em 1985, a facção controlava cerca de 70% dos pontos de venda de drogas no estado, consolidando-se como potência no tráfico.

Em 1994, um episódio marcou a ruptura interna no grupo. Ernaldo Pinto de Medeiros, o “Uê”, assassinou Orlando Jogador, então líder do Comando Vermelho no Complexo do Alemão, após divergências sobre a gestão do tráfico. O crime levou Uê a fundar os Amigos dos Amigos (ADA), com base no Morro do Adeus, vizinho ao Alemão, desencadeando uma guerra que durou até setembro de 2002.

A rivalidade foi reduzida com a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), quando o enfraquecimento do tráfico forçou antigos inimigos a se reaproximarem. Atualmente, o Complexo do Alemão e a Vila Cruzeiro são considerados os principais redutos do Comando Vermelho.


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