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Enem aborda padrão de beleza, transição energética e cultura afro-brasileira

Prova trouxe temas como envelhecimento, saúde mental e sustentabilidade, destacando debates sociais e ambientais

Estudantes no primeiro dia de provas do Enem (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

247 - A edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicada neste domingo (9) surpreendeu candidatos com uma prova que valorizou temas sociais, culturais e ambientais contemporâneos. Entre as questões, apareceram discussões sobre o padrão de beleza imposto às mulheres, a transição energética e a cultura afro-brasileira, além de reflexões sobre saúde mental e envelhecimento.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, o tema da redação deste ano foi “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, abrindo espaço para uma análise crítica sobre o valor atribuído à juventude e as transformações demográficas do país. Em sintonia com o tema, uma das questões apresentou as atrizes Paolla Oliveira e Margot Robbie para discutir o padrão de beleza e sua relação com a passagem do tempo.

A professora Tatiana Paes, dos colégios Start Anglo Bilingual School e STG, no Rio de Janeiro, observou que a escolha reforça o diálogo entre os diferentes eixos da prova. “Figuras como Paolla Oliveira e Margot Robbie representam uma tentativa de romper com expectativas rígidas sobre a aparência ideal. Ambas utilizam sua visibilidade para questionar a obsessão social pela juventude e pela perfeição estética, mostrando que a beleza pode e deve coexistir com a passagem do tempo”, afirmou.

Outras questões também abordaram temas de relevância social. Uma delas tratou da saúde mental no esporte, com referência à skatista Raíssa Leal, destacando a importância do equilíbrio emocional no alto rendimento.

Menos textos e mais profundidade

Entre as principais mudanças, professores de cursinho destacaram a redução na quantidade de textos. Na prova de linguagens, por exemplo, um mesmo texto foi usado para cinco questões diferentes, abordando a perda da caligrafia na era digital.

“Foi uma inovação muito bem-vinda, porque permite explorar diversas dimensões do texto, em vez de reforçar a dispersão de leituras muito específicas e focalizadas”, avaliou Rafael Alverne, coordenador de Linguagens do Colégio Andrews.

A linguista Silvia Maria Brandão, especialista da Geekie, considerou a mudança um avanço pedagógico. “Essa escolha metodológica aponta para uma perspectiva de trabalho muito mais aprofundada sobre o papel do texto no processo de aprendizagem". Segundo ela, o texto central funcionou como “epicentro da análise integral, mobilizando simultaneamente diferentes competências: interpretação de sentido, análise do gênero textual e análise linguística aplicada ao contexto”.

Sustentabilidade e transição energética em foco

Os temas ambientais também tiveram grande destaque. Uma das questões relacionava o desmatamento da Amazônia à redução das chuvas e ao deslocamento de massas de ar que transportam poluentes entre continentes.

“A prova apresentou discussões fundamentais sobre emissões de CO₂, desmatamento e o avanço dos carros elétricos, refletindo os grandes debates da atualidade, especialmente neste momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30”, analisou Hugo de Almeida, diretor do PB Colégio e Curso.

O professor Altieris Lima, de Geografia da Escola SEB Lafaiete, ressaltou a importância do tema: “Tivemos um conjunto de questões ligadas a fontes de energia. Já esperávamos isso, considerando que essa transição energética precisa ser rápida diante da urgência climática”.

Foco menor em história do Brasil

Na área de história, especialistas notaram a ausência de temas centrais do país. “Tiveram apenas algumas questões sobre história colonial e uma questão sobre Era Vargas”, observou Pedro Zonta, professor de História da Escola SEB Lafaiete. Segundo ele, a falta de perguntas sobre o período da ditadura militar chamou a atenção, indicando uma seleção mais restrita de conteúdos históricos.

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