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Crescimento evangélico é mais forte entre pretos, pardos e jovens, revela Censo

Relatório do IBGE mostra avanço dos evangélicos em grupos historicamente vulneráveis, enquanto catolicismo segue em queda

(Foto: Divulgação)
Laís Gouveia avatar
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247 - O avanço das igrejas evangélicas no Brasil tem ganhado contornos marcadamente raciais e etários, com maior crescimento entre pretos, pardos e jovens. É o que revela o Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados apontam que 26,9% da população brasileira hoje se identifica como evangélica — o maior índice já registrado na série histórica. A reportagem é do jornal O Globo.

Embora o país continue majoritariamente católico, com 56,7% da população, o catolicismo perdeu 8,4 pontos percentuais em 12 anos, atingindo seu menor índice desde 1872. Ao mesmo tempo, cresceu a adesão a religiões afro-brasileiras, a outras tradições religiosas (como judaísmo e islamismo) e também ao grupo dos que se declaram sem religião — hoje, cerca de 10% da população.

A mudança religiosa é mais perceptível entre pretos e pardos. Entre os autodeclarados pretos, os católicos caíram de 58% para 49% entre 2010 e 2022, enquanto os evangélicos saltaram de 24% para 30%. Entre os pardos, o movimento foi semelhante: católicos recuaram de 65% para 55%, e evangélicos subiram de 23% para 29%.

Segundo a pesquisadora Elisabete Pereira da Silva Nascimento, mestranda da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integrante do Movimento Social de Mulheres Evangélicas do Brasil (Mosmeb), o avanço das igrejas evangélicas nas periferias e entre a população negra é um reflexo da atuação das denominações pentecostais e neopentecostais.

— “As igrejas evangélicas clássicas, como a Batista e a Luterana, sempre foram mais elitizadas, formadas por pessoas brancas e com situação financeira mais estruturada. Já as pentecostais e neopentecostais, casos da Igreja Universal e da Assembleia de Deus, vão se estabelecer nas periferias e, nesses espaços, quem vive são majoritariamente pessoas negras” — explica Nascimento.

Ela destaca ainda o papel de apoio social que essas igrejas oferecem em comunidades vulneráveis:
— “Além disso, essa pessoa recebe um apoio na igreja que não encontra no braço do estado. Consegue uma ajuda para comprar um gás, um remédio que precisa”.

Outro fator apontado por Nascimento é a representatividade dentro das próprias igrejas:
— “Essa população encontra nas igrejas evangélicas em áreas de periferia outras pessoas negras em posição de destaque, como um líder de oração ou um diácono, que ali são respeitados como autoridades religiosas pela comunidade local. A mãe fica feliz com o filho no grupo jovem, cantando um louvor”.

A militante do Movimento Negro Evangélico, Gabriella Vicente, reforça a análise:
— “A fé evangélica sublima as mazelas dos tempos terrenos alimentando a esperança de um porvir onde não haverá mais lágrima, nem dor”.

Entre os brancos, o crescimento evangélico foi mais discreto: passou de 20% para 23% entre 2010 e 2022, enquanto o catolicismo caiu de 67% para 60%. A queda mais expressiva nesse grupo foi compensada, em parte, pelo aumento de pessoas sem religião e por uma maior adesão a espiritualidades alternativas.

Para Cleiton Rocha, doutorando em Antropologia Social na USP, há fatores econômicos e geográficos que ajudam a explicar essa diferença de adesão religiosa:
— “Os brancos têm um poder aquisitivo maior. Eles acabam se dissociando dessa religiosidade pentecostal, que está ligada aos pardos e negros de periferia. Inclusive, esse grupo está nas áreas centrais das cidades, enquanto as igrejas estão mais nos bairros mais distantes, e acabam acessando outras religiosidades, como o espiritismo e até as de matrizes afro”.

O levantamento do IBGE também mostra que o catolicismo predomina entre os mais velhos, enquanto os evangélicos têm forte presença entre os jovens. Entre os brasileiros com 80 anos ou mais, 72% se identificam como católicos, contra apenas 19% de evangélicos. Já entre os adolescentes de 10 a 14 anos, os católicos representam 51%, e os evangélicos, 31%.

Pedro Gomes, de 24 anos, é um exemplo dessa nova geração:
— “Eu tenho 24 anos e sou evangélico desde que nasci. Frequento a igreja toda semana. Vou aos cultos de sexta e domingo, e também participo de grupos jovens e células”.

Ele acredita que o ambiente criado pelas igrejas favorece o engajamento da juventude:
— “Dentro da igreja evangélica, temos muitas programações para os

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