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Celso Amorim: Brasil deve definir uso próprio das terras raras

Em entrevista à TV 247, assessor de Lula afirma que país precisa dominar a cadeia produtiva e priorizar o desenvolvimento interno

Celso Amorim (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

247 - O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, defendeu que o Brasil estabeleça uma política soberana e estratégica para o aproveitamento das terras raras — minerais essenciais para tecnologias de ponta, como baterias, semicondutores e equipamentos militares. A declaração foi feita durante entrevista à TV 247, na qual o diplomata destacou a importância de o país controlar sua própria demanda e agregar valor à produção nacional antes de exportar os recursos.

De acordo com Amorim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda a criação de um conselho especial ligado à Presidência para coordenar políticas voltadas aos chamados “minerais críticos ou estratégicos”, entre os quais estão as terras raras. O objetivo é planejar, de maneira integrada, o uso e o beneficiamento desses materiais dentro do território nacional. “O mais importante é a capacidade de nós sabermos definir a nossa própria demanda. O que é que nós precisamos? Estamos lidando com algo que, embora não seja urânio, é comparável em relevância estratégica”, afirmou.

A comparação com o urânio se deve ao fato de ambos os recursos exigirem política de Estado, domínio tecnológico e visão de longo prazo. Assim como o Brasil estruturou seu programa nuclear pacífico, com metas definidas e controle sobre a cadeia produtiva, Amorim defende que o mesmo seja feito com as terras raras. “A definição do que a gente precisa internamente é absolutamente fundamental, como foi em relação ao urânio, que permitiu o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro pacífico”, ressaltou.

Segundo ele, o país deve evitar repetir a lógica de exportar matérias-primas sem valor agregado. A prioridade, disse, deve ser industrializar o conhecimento, estimulando a produção nacional de componentes tecnológicos e a criação de empregos qualificados. “Não basta produzir o carro; é preciso produzir e reciclar a bateria aqui. A tecnologia tem que servir para uma transição ecológica efetiva, e não apenas para sermos compradores”, afirmou Amorim, ao comentar as negociações com investidores estrangeiros.

O ex-chanceler também destacou que o interesse global pelas terras raras coloca o Brasil em uma posição geopolítica estratégica. Segundo ele, tanto os Estados Unidos, sob o governo do atual presidente Donald Trump, quanto a China, disputam a liderança na cadeia desses minerais. Diante desse cenário, o Brasil deve manter uma postura equilibrada, cooperando com ambos, mas sem abrir mão da autonomia nacional. “Nós queremos equilíbrio. Nunca será um equilíbrio exato, mas queremos um relacionamento respeitoso e bom para os dois lados”, observou.

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