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      Brasil sai do Mapa da Fome, mas Rede Penssan alerta: 'conquista ainda é frágil'

      Rede Penssan celebra avanço divulgado pela FAO, mas destaca que 7 milhões de brasileiros ainda enfrentam a fome e cobra atenção aos mais vulneráveis

      (Foto: REUTERS/Alessandro Bianchi)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - Após seis anos, o Brasil foi oficialmente retirado do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A nova classificação consta da edição 2025 do relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI), apresentado nesta segunda-feira (28), em Adis Abeba, na Etiópia, durante o segundo Momento de Revisão da Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares (UNFSS+4). A informação foi celebrada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), que, apesar do avanço, reforça que a fome ainda atinge milhões de brasileiros e que os desafios permanecem grandes.

      De acordo com o relatório, o país reduziu sua taxa de subalimentação para menos de 2,5% da população, limite usado pela FAO para definir a presença de um país no Mapa da Fome. A última vez que o Brasil havia deixado essa classificação foi em 2014, sendo reincorporado à lista em 2019, após o desmonte de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional.

      A coordenadora da Rede Penssan, Silvia Zimmermann, ressaltou a importância da reversão do quadro. “Estamos colhendo os frutos de uma reconstrução desafiadora, mas necessária, da política de segurança alimentar e nutricional no país. Voltar a sair do Mapa da Fome é um marco, mas também um alerta: a manutenção dessa conquista exige compromisso político contínuo”, afirmou.

      Avanço com alertas - A Rede Penssan atribui o resultado à reativação de políticas estruturantes, como o Bolsa Família, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, a valorização do salário mínimo, o estímulo à agricultura familiar e a geração de empregos formais. Ainda assim, a entidade alerta que o país segue enfrentando altos índices de insegurança alimentar, sobretudo entre populações mais vulneráveis.

      Dados da Escala de Experiência de Insegurança Alimentar (FIES), metodologia usada pela FAO em mais de 140 países, indicam que cerca de 7 milhões de brasileiros ainda vivem em situação de fome — uma redução de 50% em relação ao triênio 2021–2023, quando o número era de aproximadamente 14 milhões. Segundo o mesmo relatório, 13,5% da população nacional enfrenta insegurança alimentar moderada ou grave.

      Indicadores distintos, mas complementares - O relatório SOFI se baseia em dois indicadores principais: a Prevalência da Subalimentação (PoU), que define a entrada no Mapa da Fome, e a FIES, que capta a experiência vivida de insegurança alimentar. No Brasil, há também a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), utilizada pelo IBGE desde 2003 e, mais recentemente, pela própria Rede Penssan em seus inquéritos.

      Segundo a EBIA, em 2023, 5% da população brasileira vivia em insegurança alimentar grave. A diferença em relação aos 3,4% apontados pela FIES se deve aos critérios distintos entre os instrumentos. Quando considerados os níveis moderado e grave, as estimativas se aproximam: 13,5% pela FAO e 11,6% pela EBIA.

      Desigualdade no acesso à alimentação - A Rede Penssan faz um alerta contundente sobre as desigualdades que persistem no país. Grupos mais afetados pela fome são os marcados por recortes de raça, gênero, território e classe social. A pesquisadora Ana Maria Segall, do Grupo de Trabalho de Monitoramento da entidade, enfatizou a importância de dados que retratem com precisão a realidade brasileira: “As pesquisas nacionais, tanto as do IBGE quanto as realizadas pela Rede Penssan com uso da EBIA, cumprem um papel insubstituível ao identificar, com precisão científica, os grupos sociais com maior risco de convivência com a fome. Assim, é possível que o governo planeje políticas direcionadas às pessoas mais vulnerabilizadas”.

      ODS e o futuro da segurança alimentar - Com a retirada do Mapa da Fome, o Brasil volta a trilhar o caminho para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 da Agenda 2030 da ONU, que prevê a erradicação da fome, a segurança alimentar e o estímulo à agricultura sustentável.

      A Rede Penssan, porém, reforça que essa conquista precisa ser protegida. “É fundamental blindar os avanços conquistados contra interferências externas injustificáveis ou retrocessos internos. O direito humano à alimentação suficiente e saudável é uma condição básica de dignidade e cidadania, que precisa ser garantida”, concluiu Silvia Zimmermann.

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