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Bom momento de Lula preocupa bolsonaristas, que adiam escolha de sucessor

Avanço nas tratativas com Donald Trump fortalece imagem do presidente; aliados de Bolsonaro tentam conter pressão empresarial por definição de candidato

Ex-presidente Jair Bolsonaro em sua casa em Brasília onde cumpre prisão domiciliar - 03/09/2025 (Foto: REUTERS/Diego Herculano)

247 - As conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vêm repercutindo no cenário político brasileiro. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, até mesmo aliados de Jair Bolsonaro (PL) reconhecem que Lula tem colhido dividendos políticos com a aproximação diplomática.

A avaliação entre governistas e oposicionistas é de que há chances concretas de redução das tarifas impostas a produtos brasileiros, como o café. Mesmo sem medidas imediatas, a reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, realizada em Washington na última quinta-feira (16), foi vista como um marco para negociações mais profundas em torno das sobretaxas. Esse foi o primeiro encontro de alto nível após Lula e Trump iniciarem contatos diretos no mês passado.

Crescente pressão sobre o bolsonarismo

O fortalecimento da agenda internacional de Lula, somado aos bons números em pesquisas, tem acentuado a pressão sobre a direita e sobre o entorno de Bolsonaro para a definição de um sucessor. Inelegível e condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por liderar a tentativa de golpe de 2022, o ex-presidente cumpre prisão domiciliar desde 4 de agosto.

Empresários que dialogam com líderes partidários afirmam que, sem a consolidação de um nome competitivo até o fim do ano, será difícil conter a vantagem de Lula. Para esse grupo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desponta como alternativa mais viável, embora ele negue intenção de disputar a Presidência.

Estratégia de protelação e desgaste interno

Aliados de Bolsonaro têm buscado conter a pressão para que o anúncio de um sucessor ocorra em 2025. O argumento é de que um movimento antecipado reforçaria a sensação de abandono dentro do clã Bolsonaro, além de desgastar a base nas redes sociais.

Outro fator é a instabilidade jurídica: Bolsonaro aguarda julgamento de recursos no STF e observa de perto a tramitação do projeto de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Parlamentares admitem que, se aprovado, o texto deve suavizar penas, mas dificilmente extinguirá as condenações.

Saúde frágil e isolamento político

A situação pessoal de Bolsonaro também pesa. Visitantes autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes relatam um ex-presidente abatido, com crises constantes de soluço e saúde debilitada. Apesar disso, ele mantém conversas políticas em ritmo mais lento, recebendo pré-candidatos ao Senado, como Esperidião Amin (PP-SC), Carol de Toni (PL-SC) e Márcio Bittar (PL-AC).

O tema da sucessão presidencial, no entanto, continua cercado de cautela. Em visita recente, Tarcísio tratou apenas de candidaturas ao Senado em São Paulo, mantendo distância das especulações sobre 2026.

Futuro indefinido

Se antes o prazo interno para a escolha de um nome de consenso no bolsonarismo era dezembro, agora aliados falam em fevereiro, março ou até abril, coincidindo com o fechamento da janela partidária. Há, porém, quem aposte que Bolsonaro insistirá em manter sua própria pré-candidatura, mesmo inelegível, até o limite do registro no Tribunal Superior Eleitoral no próximo ano.

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