Anvisa endurece regras para venda de remédios como Ozempic e Wegovy após uso abusivo crescer no Brasil
A decisão foi embasada em análises do sistema de farmacovigilância da própria Anvisa
247 - A venda de medicamentos agonistas do GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Saxenda, usados tanto para o tratamento de diabetes quanto para a perda de peso, passará a ser mais rigorosamente controlada no Brasil. A decisão foi tomada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) após constatar um aumento preocupante no uso indiscriminado desses produtos, principalmente para fins estéticos, fora das indicações clínicas recomendadas. As informações são do G1.
Os medicamentos, conhecidos popularmente como “canetas emagrecedoras”, foram desenvolvidos originalmente para tratar o diabetes tipo 2 e, em alguns casos, a obesidade. No entanto, o uso sem prescrição médica tem se popularizado, especialmente entre pessoas que buscam emagrecimento rápido, o que, segundo especialistas, representa um grave risco à saúde.
Diante desse cenário, a Anvisa determinou que, além da exigência da receita médica, será obrigatória a retenção do documento no ato da compra. Embora esses medicamentos sejam classificados como de tarja vermelha — o que, na teoria, já obriga a apresentação da receita —, na prática, muitos estabelecimentos não fazem essa exigência de forma rigorosa. A nova medida entra em vigor 60 dias após sua publicação no Diário Oficial da União, por meio de uma atualização na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 471/2021.
A decisão foi embasada em análises do sistema de farmacovigilância da própria Anvisa, o VigiMed, que monitora efeitos adversos de medicamentos e compartilha dados com outros países. Segundo a agência, o Brasil apresenta um volume significativamente maior de eventos adversos relacionados ao uso inadequado desses medicamentos do que o observado em outros países.
O alerta sobre o uso indiscriminado não vem apenas das autoridades sanitárias, mas também de especialistas e entidades médicas. A pesquisadora da USP Thamires Capello apresentou à Anvisa um estudo revelando que 45% das pessoas que utilizam as canetas emagrecedoras o fazem sem prescrição médica e, desse total, 73% nunca receberam orientação de um profissional de saúde. Além disso, mais da metade dos usuários consumiram o medicamento exclusivamente para emagrecimento.
Para a médica endocrinologista Cristina Schreiber, diretora do departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), os riscos são significativos. “Com o acompanhamento médico, a falta de apetite é monitorada, assim como o padrão alimentar, evitando que o paciente pare de se alimentar corretamente, por exemplo”, explica. Ela ressalta que o uso incorreto pode causar desnutrição grave, perda de massa muscular e queda de cabelo, entre outros problemas.
Outro risco apontado pelos especialistas é o chamado "efeito sanfona" após o uso indiscriminado do medicamento. O nutrólogo Noé Alvarenga alerta: “Sem o suporte contínuo de médico e nutricionista, a massa magra se perde de forma irreversível e, após a suspensão da medicação, esse desgaste atua como poderoso gatilho para o rápido reganho de peso”.
Além dos riscos à saúde individual, o consumo abusivo desses medicamentos tem causado escassez para quem realmente precisa, como os portadores de diabetes tipo 2. Segundo a médica endocrinologista e nutróloga Samara Rodrigues, do Grupo Valsa, o uso "off-label" — ou seja, fora das indicações aprovadas — tem crescido de forma preocupante. “Uma pesquisa revelou que, em 2022, o número de prescrições de medicamentos para perda de peso aumentou 41% em comparação com o ano anterior. Isso é preocupante, pois muitos pacientes podem não estar cientes dos possíveis efeitos colaterais, como problemas gastrointestinais, risco aumentado de pancreatite e até mesmo problemas de tireoide”, destaca.
Dados internacionais também apontam para o uso exagerado. Um estudo publicado na revista Diabetes Care mostrou que, em 2021, cerca de 30% das prescrições de Ozempic no mundo foram feitas para pessoas sem diabetes.
Para os especialistas, é fundamental ampliar a conscientização da população. “A obesidade é uma doença crônica, geneticamente herdada. Assim, durante o acompanhamento médico, importantes decisões como aumentar ou reduzir a dose são tomadas a fim de que o tratamento se torne eficaz e sustentável ao longo do tempo”, reforça Schreiber. Samara Rodrigues complementa que hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e prática de exercícios, devem ser sempre a primeira alternativa no combate à obesidade.
A preocupação com o uso irregular dos medicamentos também se estende ao combate à falsificação e ao contrabando. Só este ano, segundo o programa Fantástico, já foram registradas mais de 350 apreensões de medicamentos falsificados em aeroportos brasileiros. Na semana passada, a Receita Federal apreendeu mais de 600 canetas no Aeroporto Internacional do Recife.
Em nota enviada ao g1, a fabricante Novo Nordisk, responsável pelo Ozempic e Wegovy, declarou que “compartilha das mesmas preocupações da Anvisa quanto ao uso irregular de medicamentos”.
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