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Itaipu aposta em energia solar e hidrogênio verde para dobrar capacidade de geração elétrica

Usina binacional investe em projetos de energia limpa, como placas fotovoltaicas flutuantes, biogás e hidrogênio verde, e quer ampliar papel estratégico

Itaipu aposta em energia solar e hidrogênio verde para dobrar capacidade de geração elétrica (Foto: Reprodução/Itaipu Binacional )

247 - Responsável por quase 9% da energia elétrica consumida no Brasil, a Itaipu Binacional quer ir além da força das águas do Rio Paraná. A maior hidrelétrica em operação no país, resultado de um tratado firmado há quatro décadas entre Brasil e Paraguai, aposta em novas matrizes sustentáveis para manter o protagonismo na transição energética. O objetivo é ousado: mais que dobrar a capacidade instalada atual de 14 mil megawatts (MW). As informações são da Agência Brasil.

A expansão começa por um projeto-piloto de energia solar flutuante, instalado sobre o reservatório da usina, em Foz do Iguaçu (PR). A iniciativa prevê 1,5 mil painéis fotovoltaicos espalhados por uma área equivalente a um campo de futebol. A construção, que já está 60% concluída, deve ser finalizada até setembro de 2025, segundo o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri. “O projeto está em ritmo acelerado e vai reforçar nossa vocação por energia limpa”, afirma o executivo.

Com investimento de US$ 854,5 mil (aproximadamente R$ 4,7 milhões), o projeto é executado por um consórcio binacional formado pelas empresas Sunlution (brasileira) e Luxacril (paraguaia). Embora a área ocupada represente menos de 1% dos 1.350 quilômetros quadrados do reservatório, o sistema será capaz de gerar 1 megawatt-pico (MWp) — energia suficiente para abastecer cerca de 650 residências. A produção será destinada ao consumo interno da própria Itaipu.

O superintendente de Energias Renováveis, Rogério Meneghetti, explica que o potencial de ampliação é expressivo: “Se conseguíssemos cobrir 10% do reservatório com placas solares, poderíamos gerar 14 mil MW — o dobro da capacidade atual.” Ele ressalta, contudo, que o uso do espaço depende de uma série de estudos ambientais e logísticos. “Nem todas as áreas podem ser utilizadas. Onde é área de navegação, área de reprodução de peixes, tudo isso a gente está monitorando, avaliando para pensar em futuras ampliações”, diz.

Hidrogênio verde: combustível limpo e versátil

A aposta de Itaipu em novas matrizes vai além do sol. No Itaipu Parquetec, centro de inovação instalado no lado brasileiro da usina, pesquisadores trabalham no desenvolvimento do hidrogênio verde, uma das alternativas mais promissoras da transição energética. O Centro Avançado de Tecnologia de Hidrogênio estuda o uso do gás como combustível limpo, já que sua queima não gera emissão de dióxido de carbono (CO₂).

Segundo o pesquisador Dan Yushin Miyaji, a produção ocorre por eletrólise da água, processo que separa o hidrogênio do oxigênio com o uso de energia elétrica. “A versatilidade do hidrogênio verde é o que pode fazer dele uma solução para a transição energética”, explica. “Ele pode ser usado tanto como energia quanto como insumo para outros produtos, como metanol, combustíveis sintéticos e amônia.”

O projeto-piloto do Parquetec tem capacidade para produzir 1 quilo de hidrogênio por hora, volume suficiente para mover um carro por 150 quilômetros. A tecnologia será apresentada durante a COP30, em Belém (PA), quando Itaipu exibirá um barco movido a hidrogênio. “Em Belém existem ilhas, e as comunidades fazem coleta de resíduos sólidos com barco a diesel. Por que não colocar um barco a hidrogênio para demonstração?”, propõe Miyaji. “A gente acredita que é assim que desperta interesse de futuras oportunidades.”

Biogás e economia circular

A Itaipu também tem investido na geração de biogás e biometano a partir de resíduos orgânicos. As unidades experimentais, operadas pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) — instituição criada pela própria usina —, transformam restos de alimentos e outros materiais biodegradáveis em combustível limpo, que abastece parte da frota da empresa.

Além disso, o CIBiogás desenvolve o bio-syncrude, um óleo sintético que serve como base para o Combustível Sustentável de Aviação (SAF), tecnologia que será uma das atrações da Itaipu na COP30.

Entre os projetos mais avançados está a biousina de Toledo (PR), cidade referência na suinocultura. Com investimento de R$ 19 milhões financiado pela Itaipu, a unidade processa diariamente dejetos de 40 mil suínos, gerando energia suficiente para 1,5 mil residências. O projeto também contribui para reduzir impactos ambientais e fomentar a geração distribuída de energia limpa.

Parceria binacional e visão de futuro

Para o diretor-geral Enio Verri, as iniciativas consolidam Itaipu como uma potência em inovação e sustentabilidade. “Olhando para o futuro, esperamos que tudo isso some-se à nossa produção e, na média, a gente consiga garantir a energia limpa que é fundamental dentro de uma transição [energética] e, ao mesmo tempo, mantenha o preço baixo”, afirmou.

Por se tratar de um empreendimento binacional, toda e qualquer mudança na atividade principal da hidrelétrica precisa ser acordada entre Brasil e Paraguai. Segundo Verri, o tema deve ser abordado na revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata das tarifas e regras de operação. “Há uma expectativa das diretorias brasileira e paraguaia de que possamos ampliar esse escopo. Hoje o tratado prevê apenas a geração hidrelétrica, mas foi assinado há mais de 50 anos, quando a energia elétrica era ‘revolucionária’”, observa.

Verri acredita que a soma das novas fontes renováveis transformará o papel da usina na matriz energética regional. “Podemos, a partir da energia hidrelétrica, avançar muito mais, chegando no SAF. Para isso, precisamos da hidrelétrica, do hidrogênio verde e do biogás. Isso faz parte da nossa visão de futuro”, conclui.

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