Venezuela
A depender dos russos, a Venezuela já está dentro, no jogo. Só falta combinar com o “adversário”
Dez dias separam a posse de dois presidentes no continente americano. Entretanto, não é a demarcação temporal que caracteriza a distância entre as repúblicas do sul e do norte em questão, mas o sentido contrário em que estarão sendo governadas a partir deste janeiro de 2025. Na República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro Moros assume o terceiro mandato presidencial reafirmando o compromisso de aprofundar a democracia direta de protagonismo popular iniciada há 26 anos pelo então presidente Hugo Chavez Frias. No Estados Unidos da América, Donald Trump volta em segundo mandato prometendo continuar a política de fazer a América grande outra vez.
Em 1998, Hugo Chávez se elegeu presidente prometendo refundar o país a partir de nova constituição e reverter a Lei dos hidrocarbonetos devolvendo à Venezuela a propriedade sobre as jazidas de petróleo e o direito exclusivo do Estado à atividade de exploração. A constituição referendada pela vontade popular foi promulgada pela Assembleia Nacional e daí nasceu a República Bolivariana da Venezuela. Chávez foi reeleito três vezes e faleceu de câncer no exercício do mandato em 2013. Nicolás Maduro era o vice-presidente, e corre que as últimas palavras de Chávez foram o pedido para que os venezuelanos votassem em Maduro.
A morte de Chávez reascendeu a esperança da oligarquia de voltar ao poder e ao regime democrático que destinava o Estado a atender os interesses exclusivos da classe burguesa. Mas, qual. Nos quatorze anos de afirmação da soberania interna e externa, o poder popular não arredou pé das ruas para garantir seu protagonismo vencendo as recorrentes tentativas da direita e da extrema-direita de derrubar o governo e as violentas ações terroristas dessas mesmas oposições sempre auxiliadas por mercenários externos, sob soldo do imperialismo, que resultaram em muitas mortes de cidadãs e cidadãos venezuelanos.
Maduro tomou posse dia 10 de janeiro com o slogan de campanha “Eu juro com Maduro, pelo futuro”. Depois de formalizar o rito em cerimônia na Assembleia Nacional, o então presidente seguiu para a avenida lateral ao Palácio Miraflores, região central de Caracas, onde era esperado por mais de dois milhões de pessoas. Eram locais, caravanas de outros estados, e representantes de cerca de 125 delegações estrangeiras vindas da Asia, África, Europa, Américas do norte, sul e caribe. Já instalado no palco, o que se assistiu foi o presidente jurando seus compromissos junto com a multidão e dando posse ao povo. De mão erguida, pediu aos presentes que repetissem seu gesto e as palavras que iria proferir. “Juro, como povo bolivariano e chavista; juro, em nome dos libertadores e libertadoras da América; juro, por Guaicapuro; juro, por Pedro Camejo, ‘El Negro Primero’; juro, pelo general-em-chefe Ezequiel Zamora; juro, por nosso comandante supremo Hugo Chávez, lealdade absoluta ao projeto histórico de Bolivar; juro, continuar o processo de construção de uma Venezuela potente, de um novo modelo econômico que nos dê prosperidade, de um modelo social de socialismo e igualdade ; juro, consolidar o poder popular; juro, consolidar a fusão popular militar-policial; e eu juro, combater como guerreiros pela paz qualquer conspiração fascista saia por onde saia; juro, combater, lutar, até vencer o fascismo e as conspirações imperiais; e eu juro, defender o direito da minha pátria à paz e ao futuro; hoje, juro com Maduro, hoje eu juro pela pátria. Ficam vocês juramentados e empossados. Exército de luz para avançar nos anos que virão.”
O que se passa na república bolivariana da Venezuela não é aventura nem bravata. É o cumprimento do programa revolucionário participativo de protagonismo popular e ao mesmo tempo representativo no que diz respeito às funções administrativas corriqueiras dos estados democráticos. E a julgar pelos poderes do povo, o processo está assegurado nos seis anos de mandato que termina em 2031. Maduro já começou a trabalhar instalando comissão para debater uma nova constituinte a ser submetida a referendo popular e chamou todos os 10 partidos para tratar das próximas eleições para os executivos estadual e municipal, e para o legislativo. Seria infame dizer que a revolução bolivariana está madura, mas que dá vontade, dá, pois é assim que ela se apresenta nas práticas diárias e se manifesta nas urnas.
Em relação à governança de Donald Trump, o que se conhece são seus desejos declarados de anexar a Groenlândia, o Canadá e o Canal do Panamá. Voltando à Maduro, o presidente anunciou que vai instalar um destacamento da Guarda Nacional Bolivariana em Essequibo. Também aguarda se tornar membro pleno do BRICS+. Enquanto a demanda não se efetiva, seguem os acordos e as melhores relações com China e Rússia. A propósito, a delegação russa na posse era das mais animadas, formada por 67 jovens assessores e parlamentares do partido Rússia Unida. A depender dos russos, a Venezuela já está dentro, no jogo. Só falta combinar com o “adversário”.
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