Trump e Lula: pragmatismo se sobrepõe à ideologia
O pragmatismo trumpista é o de reconhecer o evidente: a força política e eleitoral lulista
Os interesses econômicos vitais para as relações Brasil-EUA falaram mais alto do que os ideológicos, na aproximação Trump-Lula no telefonema de hoje entre ambos.
Detalhe: Lula recebeu a chamada de Trump, segundo a assessoria palaciana.
A iniciativa foi do chefe da Casa Branca, não do chefe do Planalto.
Lula, para Trump, não é Zelensky, a quem deu esporro federal, dada a condição de dependência e subserviência do ucraniano em relação ao imperador americano.
Ficou claro: a reverência de Trump a Lula revela a importância do Brasil para os interesses vitais dos Estados Unidos.
Se Trump, por exemplo, atender à solicitação de Lula pela suspensão do tarifaço, debatendo-o em novas bases, significará reconhecimento americano ao peso relativo mais relevante do Brasil nas considerações objetivas por parte da Casa Branca.
Sendo a maior potência da América do Sul, o Brasil, dispondo das riquezas estratégicas das quais os Estados Unidos não podem dispensar, é fundamental para os estrategistas americanos.
O buraco, portanto, é mais embaixo.
Trump não quer repetir, em relação ao Brasil, o erro que cometeu relativamente à Índia.
Os indianos, tratados como cachorro morto por Trump, aproximaram-se da China e da Rússia, da qual adquirem petróleo a custo baixo.
Mancada estratégica da Casa Branca.
Agredir o Brasil poderia aproximá-lo, como integrante do BRICS, da China e da Rússia.
A maior aproximação do Brasil desses dois países fragiliza a influência dos Estados Unidos sobre a América Latina.
Pragmaticamente, os americanos pretendem ter acesso às terras raras disponíveis em território nacional para atender às demandas industriais estratégicas americanas, a fim de disputar competitivamente com a China.
Por que Trump, empresário pragmático, aumentaria incompatibilidades com o Brasil, se necessita dos produtos primários e semielaborados brasileiros, fundamentais ao controle da inflação e dos juros nos Estados Unidos, bem como ao incremento da industrialização americana para a criação de empregos de qualidade nos Estados Unidos?
Cai por terra, dessa forma, toda a construção ideológica que o bolsonarismo tentou erguer para inviabilizar a relação Lula-Trump.
Ficou evidente que o negócio dos Estados Unidos são os negócios, em primeiro lugar.
Assim, mudou de patamar a relação Brasília-Washington, para desespero do bolsonarismo ideológico.
A burguesia tupiniquim, que estava tentando rifar Lula por motivos ideológicos, cai do cavalo.
Terá que reajustar suas metas políticas para 2026.
Afinal, depois do telefonema de hoje entre os dois líderes, a candidatura Lula fica mais forte e competitiva.
Por que Lula passa a ser interessante para a burguesia americana, representada por Trump, e continuaria sendo atacado pela burguesia tupiniquim submissamente ideológica a Washington?
O pragmatismo trumpista é o de reconhecer o evidente: a força política e eleitoral lulista.
Trump não quer dar as costas à realidade concreta e objetiva.
O império em crise e decadência não pode prescindir do Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.