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      Jorge Folena

      Advogado, jurista e doutor em ciência política.

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      Trump ameaça fim do BRICS – A luta pela superação do colonialismo

      Com discurso autoritário e ataques ao BRICS, Trump reforça projeto de dominação global e amplia tensões com países do Sul Global

      Donald Trump e BRICS (Foto: Reuters)

      O presidente dos Estados Unidos da América do Norte recorre, mais uma vez, à política envelhecida que tem sido imposta ao mundo pela classe dominante do seu país; a mesma que defendeu as políticas de globalização, no seio do neoliberalismo, no final dos anos 1980, e saiu em busca de países considerados periféricos, que pudessem lhes oferecer cadeias de suprimentos e mão de obra barata para dar prosseguimento ao seu processo de industrialização.

      Assim, na busca pela ampliação de seus lucros, diversas empresas daquele país migraram suas plantas e atividades para outros países, mas, ao fazê-lo, promoveram a desindustrialização dos EUA e a depreciação da mão de obra local. Esse processo, conduzido ao longo de décadas, levou a classe trabalhadora norte-americana a um gradativo empobrecimento, que, nos dias atuais, se transformou em miséria para numerosas famílias.

      O padrão de vida norte-americano, que formou sua mundialmente famosa classe média, não mais existe. Essa perda de renda e status fomentou o ressentimento entre os trabalhadores desesperançados e resultou na ampliação do fascismo nos Estados Unidos, o que facilitou as vitórias de Donald Trump. Mas o resultado da última disputa pela presidência do país também foi afetado pelos expressivos erros praticados pelos líderes do Partido Democrata na gestão anterior, como o patrocínio da guerra por procuração na Ucrânia e o genocídio em curso em Gaza.

      Donald Trump sempre apresentou as características de um fascista bufão e autoritário, apresentando-se, desde a sua primeira eleição, como um político “antissistema”, que traria a solução dos problemas para os trabalhadores ressentidos, desesperançados e empobrecidos.

      Contudo, ele é, na verdade, um legítimo representante da classe dominante empresarial; então, ao contrário do que anunciou, impõe um programa de governo em favor dos muito ricos, que se beneficiam da diminuição da carga tributária e de isenções no pagamento de tributos, enquanto os pobres assistem ao corte no orçamento público das verbas destinadas à saúde e aos programas sociais, criando-se, assim, os meios para ampliar ainda mais a injusta concentração de capital.

      As ações prometidas por Donald Trump durante sua campanha eleitoral, colocadas em prática no seu retorno à Casa Branca, têm sido cada vez mais autoritárias, tanto no âmbito interno quanto nas relações com os demais países do mundo, inclusive com vários de seus aliados, como Canadá e nações da Europa. Dentro do país, promove perseguição implacável contra imigrantes, servidores públicos, estudantes, cientistas e universidades.

      Além disso, a Suprema Corte estadunidense tem favorecido o atual governo ao limitar os efeitos das decisões judiciais de declaração de inconstitucionalidade de seus atos ao território dos estados em que os juízes proferiram a decisão; um exemplo foi o que ocorreu com os questionamentos ao decreto que estabeleceu que crianças nascidas nos Estados Unidos, filhas de imigrantes em situação irregular, não tinham mais direito à cidadania americana.

      Como todo autoritário, Donald Trump põe em xeque a democracia liberal e suas instituições, do mesmo modo que fez seu amigo Jair Bolsonaro no Brasil; mas isso promove a ampliação da luta de classes e a resistência popular no interior do seu país.

      Trump considerou quase todos os países, exceto Israel, como inimigos dos Estados Unidos da América do Norte, ameaçando-os com a imposição de tarifas alfandegárias, como se ainda estivéssemos vivendo a etapa econômica do mercantilismo, há muito superado pelo capitalismo de livre mercado, abraçado até mesmo pela República Popular da China, maior alvo e inimigo do Império do Norte.

      Como qualquer fascista mentiroso, disse que iria promover a paz no mundo, mas o que se vê é a sua paixão pela guerra, pela desordem, pela destruição, que impõe enorme insegurança para as diversas nações, mas também para seu próprio povo, que está cansado de ver os recursos orçamentários, arrecadados do suor da sua força de trabalho, empregados em guerras permanentes, que não trazem nenhum proveito para os cidadãos. Esses conflitos produzem vantagens apenas para os acionistas das indústrias de guerra, que lucram cada vez mais com a morte de milhões de pessoas pelo mundo, inclusive de militares norte-americanos.

      As hostilidades promovidas recentemente, em especial contra os países integrantes do BRICS (seja o bombardeio ao Irã ou o envio de armas para a Ucrânia atacar cidades russas, sejam as ameaças de imposição de tarifas para os países do Sul Global que pretendem comercializar em moedas locais – como anunciado na reunião de 6 e 7 de julho, na cúpula do BRICS no Rio de Janeiro), são a manifestação do desespero de uma (ainda) potência, que vê surgirem agora, ao seu lado, outros países tão importantes como ela foi no passado.

      Sem dúvida, os Estados Unidos da América do Norte são um país muito poderoso e perigoso, dado que dispõe de grande capacidade econômica e militar e ainda se sente na condição de único grande líder global. Porém, o poder hoje está sendo difundido entre países que, outrora, foram colonizados e obrigados à dependência, mas que, diante da globalização defendida pela classe dominante norte-americana ao final dos anos 1980, trabalharam para se desenvolver (muito rapidamente) e agora reúnem forças para o processo de superação do imperialismo, que até então favoreceu as empresas multinacionais dos EUA, que promoveram a exploração das nações nos demais continentes, em uma ingerência que ainda persiste, mas que já enfrenta resistência por parte de muitos daqueles países.

      Com efeito, não prosperou a ideia de que o conceito de soberania nacional teria sido superado com a intensificação da globalização. O que fica mais evidente é o fortalecimento do multilateralismo e da soberania dos países, que se associam em blocos para se fortalecerem mutuamente e, por meio de atos de cooperação, promoverem o desenvolvimento sustentável mútuo, com ênfase na paz e sem laços de subordinação.

      É por isso que o colonialismo decadente esperneia e grita para sobreviver, recusando-se a morrer mesmo depois de seis séculos de exploração, espoliação, expropriação e escravização, sem que nunca tenha apresentado soluções efetivas para as dificuldades dos povos, tendo promovido apenas guerras, mortes e ameaças de aniquilação da humanidade.

      Assim, é importante lembrar que o velho não tem como ser ressuscitado diante do novo que se apresenta aos nossos olhos, mediante o avanço da igualdade de propósitos e da união dos iguais, organizados num bloco crescente, integrado por todos os que, no passado, foram vítimas das mazelas provocadas pelo colonialismo, que hoje buscam sua libertação.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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