Tarifas de Trump contra a China: golpe de 40% na desordem econômica mundial
Casa Branca lança ofensiva com tarifas de 40% sobre produtos chineses, abalando cadeias globais e inflamando tensões comerciais
Se a China ergueu a Grande Muralha, com seus 21 mil quilômetros de pedra e história, forjada pelas dinastias — sobretudo a Ming — para barrar invasores nômades, os Estados Unidos, sob Donald Trump, constroem outra muralha: uma barreira colossal de protecionismo econômico. A nova ordem executiva, assinada nesta quinta-feira, 1º de agosto, impõe tarifas de 40% sobre produtos chineses que driblam as barreiras americanas por rotas indiretas, como o Sudeste Asiático e o México. Essa cicatriz no comércio global resistirá a dois verões?
O objetivo é claro: frear a dependência das fábricas chinesas, que alimentam o déficit comercial americano de US$ 1,2 trilhão. A medida, batizada de combate ao “transbordo”, entra em vigor em uma semana e promete apertar o cerco às cadeias de suprimentos globais.
Leio no café da manhã uma matéria do New York Times que detalha como, desde o primeiro mandato de Trump, empresas chinesas migraram operações para países como Vietnã e México. A tática era simples: evitar tarifas enviando produtos por caminhos indiretos, muitas vezes com selos locais que disfarçam a origem chinesa. Agora, Trump mira esses fluxos com uma sobretaxa de 40%, aplicada além das tarifas já existentes para bens diretos.
As novas regras valem para remessas de qualquer origem, mas a China, com sua vasta rede industrial, será a mais atingida. Stephen Olson, ex-negociador americano e pesquisador em Cingapura, alerta: “Isso é uma tentativa de isolar Pequim, e a China reagirá”. Negociações comerciais podem azedar, com retaliações à vista.
A ordem cria uma categoria para produtos transbordados, sem transformação significativa no país intermediário. Países como o Vietnã, que intensificaram inspeções, insistem que seus produtos, montados com peças chinesas, merecem selos locais legítimos.
Além das tarifas, regras de origem estão a caminho, segundo a Casa Branca. Elas exigirão que bens sejam realmente fabricados no país declarado, como no USMCA, que cobra 75% de conteúdo norte-americano para automóveis.
Brad Setser, do Conselho de Relações Exteriores, vê nas regras de origem o maior impacto de longo prazo. “Definir o conteúdo chinês pode mudar o comércio global”, diz ele. Mas há ceticismo: com uma possível cúpula entre Trump e Xi Jinping no horizonte, o governo pode hesitar em adotar medidas tão rígidas.
Um acordo com o Vietnã, firmado em julho, já incluía a tarifa de 40%, mas Hanói evita confirmá-la publicamente. Outros países do Sudeste Asiático, como a Indonésia, seguem calados.
Trump, sempre imprevisível, suavizou o tom recentemente. Recuou em restrições a chips de IA para a China e elogiou laços positivos com Pequim em diálogo com as Filipinas.
O dilema persiste: os EUA buscam autossuficiência, mas estão presos a interdependências globais. Tarifas podem conter a China, mas elevam preços para o consumidor americano e agitam o comércio mundial. Está em curso um processo de desintegração da ordem mundial como a conhecemos. É um tsunami ainda visto como um amontoado de ondas médias, entrecortado por ondas gigantes. Quando nos dermos conta, talvez já seja tarde demais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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